Por Isabel Versiani e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A assessoria do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, divulgou nota nesta sexta-feira negando que ele tenha desqualificado "agentes públicos" em reunião com grupo de economistas da qual participou nesta manhã e destacando que a solução do governo para as famílias que dependem de auxílio respeitará as âncoras fiscais.
A nota foi uma referência à informação que circulou nos mercados de que, na reunião, Marinho teria criticado o ministro da Economia, Paulo Guedes, e afirmado que o programa Renda Cidadã, de transferência de renda, será lançado de qualquer forma --o que foi interpretado como uma disposição do governo de violar a regra do teto de gastos.
Os juros futuros disparavam nesta sexta-feira, com taxas de vencimentos do miolo da curva saltando mais de 20 pontos-base, em repercussão ao rumor sobre a reunião.
"A reunião teve o intuito de reforçar o compromisso do governo com a austeridade nos gastos e a política fiscal", diz a nota do ministério.
"Em sua fala, Rogério Marinho destacou que o governo reconhece a necessidade de construção de uma solução para as famílias que hoje dependem da auxílio emergencial e que essa solução será resultado de um amplo debate com o Parlamento, em respeito à sociedade e às âncoras fiscais que regem a atuação do governo."
A nota afirma, ainda, que na reunião não foram feitas "desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos, nem tampouco às propostas já apresentadas".
"Quem dissemina informações falsas como essas tem claro interesse em especular no mercado, gerando instabilidade e apostando contra o Brasil."
Uma fonte próxima a Marinho disse à Reuters que, apesar das reservas de Paulo Guedes, não há opção e vai ter que se criar o Renda Cidadã de algum jeito como forma de contemplar futuramente os beneficiário do auxílio emergencial.
Essa fonte avaliou que, no início da pandemia, o Supremo Tribunal Federal (STF) tinha permitido que despesas com o Covid-19 fossem excepcionalizadas pelo governo federal de restrições de gastos. Contudo, ressalvou a fonte, essa providência foi adotada para despesas na área de saúde com a doença, mas não para questões referentes à economia.
Além da decisão do STF, o Congresso aprovou o pedido do governo de estado de calamidade pública e a chamada emenda do Orçamento de Guerra que permitiram gastos extraordinários em função da pandemia.
A fonte lembrou ainda que Marinho esteve na véspera todo o dia com o presidente Jair Bolsonaro cumprindo uma agenda de viagens e cada vez mais tem se aproximado dele.
Na chegada ao prédio do Ministério da Economia, Paulo Guedes, comentou as notícias e afirmou que Marinho pode ser considerado "despreparado, desleal e fura-teto", caso tenha falado mal dele.
"Eu não acredito que o Marinho tenha falado mal de mim, nem acredito... se ele está falando mal, tem três coisas: é despreparado, é desleal e é o fura-teto, está confirmando que é um fura-teto", disse Guedes.
"Então, eu espero que ele não tenha falado nada de mal. Agora eu vou subir depois eu venho e explico para vocês o que está acontecendo", emendou ele, em rápida fala a jornalistas.