Por Leika Kihara
NARA, JAPÃO (Reuters) - O Banco do Japão provavelmente encerrará suas compras de ativos de risco, mas evitará aumentar rapidamente as taxas de juros ao reduzir o apoio monetário, disse o vice-presiente Shinichi Uchida, na mais forte indicação até o momento de que o fim de seu estímulo está próximo.
Os preços do setor de serviços estão subindo à medida que mais empresas aumentam os salários e repassam o aumento dos custos de mão de obra, disse Uchida, sinalizando sua convicção crescente de que as condições para a eliminação gradual do estímulo estão se encaixando.
"Se a nossa meta de inflação de 2% for alcançada de forma sustentável e estável, a flexibilização monetária em larga escala terá cumprido seu papel e exploraremos se ela deve ser revisada", disse Uchida em um discurso acompanhado de perto em Nara, no oeste do Japão, nesta quinta-feira.
O fim das taxas de juros negativas, um movimento que os mercados esperam que ocorra em março ou abril, seria equivalente ao aumento dos juros de curto prazo em 0,1 ponto percentual, disse ele.
"Mesmo que o Banco do Japão encerre nossa política de taxas de juros negativas, é difícil imaginar um caminho no qual ele continuará aumentando a taxa de juros rapidamente", disse Uchida.
As falas de Uchida, que foram observadas de perto pelos mercados devido ao seu histórico de dar dicas importantes sobre a política monetária, aumentam a chance de o banco central retirar em breve as taxas de juros de curto prazo do território negativo e revisar outras partes da estrutura do estímulo.
Uchida tem sido considerado pelos mercados como um dos membros da diretoria mais cautelosos com relação a uma saída antecipada. Em julho do ano passado, ele disse que o fim das taxas negativas seria apropriado somente quando a inflação impulsionada pela demanda se tornasse muito forte.
Entretanto, seus comentários nesta quinta-feira indicam um pensamento cada vez mais "hawkish" na diretoria de nove membros do banco central.
"Parece que o Banco do Japão está preparando as bases para o fim das taxas negativas, a fim de minimizar qualquer choque no mercado quando realmente agir", disse Toru Suehiro, economista-chefe da Daiwa Securities.
"O fim da taxa negativa tornou-se um dado adquirido", disse ele, prevendo abril como o momento mais provável para a saída.
Em seu programa de estímulo, o banco central japonês orienta as taxas de juros de curto prazo para -0,1% e o rendimento dos títulos públicos de 10 anos em torno de 0%. Ele também compra títulos públicos e ativos de risco para injetar dinheiro na economia.
Como os mercados precificam a chance de um fim no curto prazo para as taxas negativas, os investidores estão mudando sua atenção para o ritmo dos aumentos subsequentes de juros e a ordem em que o Banco do Japão poderia remover outros aspectos de sua estrutura de estímulo.
Uchida disse que seria "natural" que o banco central encerre suas compras de ativos de risco, tais como fundos negociados em bolsa (ETF) e trust funds que investem em imóveis, uma vez que julgue que uma inflação sustentada de 2% está à vista.