Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central errou ao falar “o tempo inteiro” no ano passado que havia risco fiscal no país, disse nesta segunda-feira o ministro da Economia, Paulo Guedes, para quem a autoridade monetária também falhou em previsões para o PIB por questões técnicas, não por "militância".
"O Banco Central cometeu alguns erros, primeiro, falando o tempo inteiro no ano passado do risco fiscal, o desajuste fiscal, fiscal, fiscal... Ele passou o ano falando do fiscal quando, na verdade, nós estávamos indo para um superávit. Ele não percebeu essa mudança de estrutura na economia brasileira", disse.
Segundo o ministro, enquanto o BC demonstrava preocupação com o quadro fiscal, o Ministério da Economia estava preocupado com os juros reais negativos --quando a taxa nominal de juros é mais baixa que o índice de inflação.
"Graças a Deus o Roberto Campos, que é um ótimo, excelente presidente do Banco Central, percebeu, acabou se adiantando e ficando à frente da inflação", disse. "O Banco Central estava falando do fiscal enquanto eu estava preocupado com o monetário."
Após levar a taxa básica de juros ao menor patamar histórico de 2% ao ano, o BC começou a subir a Selic em março de 2021, quando a inflação acumulada em 12 meses girava em torno de 6%. Agora, em meio à indicação de que o agressivo ciclo de aperto está próximo ao fim, com a Selic hoje em 13,75%, o IPCA está em 8,73%.
DESPEDALADA NO BNDES
Em entrevista à Rádio Guaíba, Guedes também afirmou que o governo fará “a despedalada final” no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nesta semana, mencionando que o banco de fomento tem que devolver de 80 a 90 bilhões de reais ao Tesouro Nacional.
Após o Tribunal de Contas da União ter determinado a aceleração da devolução ao Tesouro dos empréstimos feitos ao BNDES em governos petistas para capitalizar o banco, a instituição informou na semana passada que avaliará um cronograma com o Ministério da Economia para o pagamento do passivo.
O BNDES disse em nota, na última quinta-feira, que o cronograma levará em conta as condições de liquidez e governança do banco de forma a não haver exposição da instituição.
Ao defender a gestão econômica do atual governo, Guedes afirmou que o país tem condição de assegurar um crescimento anual de 3% do PIB "se seguirmos com a nossa agenda" de transição para uma economia de mercado.
Em relação à promessa do presidente Jair Bolsonaro de manter em 2023 o pagamento adicional de 200 reais do Auxílio Brasil, Guedes voltou a dizer que será necessário tributar a distribuição de dividendos para financiar o programa.