Por Luana Maria Benedito
(Reuters) -O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que sua visão de 2023 é de um ano que foi "bom", com crescimento econômico acima do esperado e convergência da inflação e dos juros, apesar de ruídos de curto prazo.
"Você conseguiu crescer mais, mas ainda assim conseguindo fazer uma convergência de inflação", disse o presidente do BC em entrevista ao Jota, ao fazer uma retrospectiva do ano.
Os comentários vieram poucas horas após o IBGE informar que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou expansão de 0,1% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, marcando o terceiro trimestre seguido de expansão. A taxa ficou acima da expectativa em pesquisa de Reuters de queda de 0,2%.
A menos de um mês do fim de 2023, Campos Neto avaliou o ano como um período em que o Congresso Nacional "trabalhou muito", destacando a aprovação do arcabouço fiscal e o avanço da reforma tributária.
Segundo ele, 2023 "foi um ano bom, acho que a gente acaba, aqui no Brasil, fixando muito nas coisas do curto prazo, às vezes tem uma notícia ruim aqui ou ali, mas, quando eu converso com investidores estrangeiros que estão olhando vários países, eles acham que o Brasil teve um ano bastante bom, se destacou".
Campos Neto voltou a elogiar o trabalho do Ministério da Fazenda ao longo deste primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também exaltou as conquistas do próprio Banco Central, apontando a redução da inflação -- atualmente projetada abaixo do teto da meta ao final de 2023 pelos mercados, segundo o boletim semanal Focus.
"É óbvio, o juro ficou mais alto do que a gente gostaria durante um tempo, sim, mas o juro tá convergindo", disse o presidente da autarquia, argumentando que a diferença de juros reais entre Estados Unidos e Brasil está "nas mínimas de muito tempo".
A taxa Selic está atualmente em 12,25%, depois que o BC promoveu três quedas seguidas de 0,50 ponto percentual nos juros desde agosto.
Campos Neto voltou a falar nesta terça-feira que não existe relação mecânica entre uma mudança da meta fiscal e a condução da política monetária.
AGENDA DE INOVAÇÃO
Na entrevista, cujo enfoque foi a digitalização da economia, Campos Neto disse que o BC quer avançar no tema da conexão financeira global -- incluindo moedas digitais e meios de pagamento -- no G20 e citou proposta para a criação de uma "taxonomia" das transferências internacionais.
"A gente está caminhando para ter moeda digital em grande parte dos grandes países e até médios países, e se a gente puder criar um sistema de conectar as moedas digitais digitalmente... Então esse é um tema que a gente quer abraçar muito no G20", afirmou.
O presidente do BC disse que o grande entrave para a conexão financeira internacional hoje são os obstáculos políticos, uma vez que países diferentes têm sistemas diferentes para combater lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo, bem como diferentes regras tributárias.
No âmbito doméstico, ele afirmou que já há impacto da agenda de inovação do BC no spread bancário e nos indicadores econômicos, citando o Pix como explicação para formalização do emprego e como uma forma de poupar custos do governo.
(Por Luana Maria Benedito, em São PauloEdição de Isabel Versiani e Pedro Fonseca)