BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou na noite desta quinta-feira que não ofendeu ninguém após ter classificado como "política" a liminar dada na véspera pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que barrou a posse para o comando da Polícia Federal do delegado Alexandre Ramagem, mas defendeu que a decisão seja revista pela corte.
"Fiz um desabafo hoje de manhã, não ofendi pessoalmente ninguém nem instituições, tenho plena convicção disso, apenas me coloquei no lugar do delegado da PF Ramagem que, numa liminar monocrática do STF, foi impedido de tomar posse", disse Bolsonaro, em transmissão feita por suas redes sociais.
Mais cedo, Bolsonaro rebateu o argumento de Moraes de que a indicação violava o princípio da impessoalidade ao dizer que ele só chegou à corte graças à amizade com ex-presidente Michel Temer, que o indicou ao STF. O presidente chegou a dizer que a decisão do STF "quase" causou uma crise institucional.
A fala do presidente causou forte reação no Supremo e na magistratura ao longo do dia com autoridades e entidades se solidarizando com Moraes. [nL1N2CI2UE]
Na transmissão desta noite, num aparente recuo da agressividade da manhã, Bolsonaro preferiu relatar a experiência profissional de Ramagem na PF e defendeu que o Supremo reveja "o mais rapidamente possível" a decisão de barrar a nomeação dele, ao destacar a "vida pregressa" dele no combate à corrupção.
Novamente, o presidente admitiu que nasceu uma "amizade" a partir do trabalho que Ramagem desempenhou à frente da coordenação da segurança de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.
Essa foi uma da alegações usadas por Moraes --ao citar acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o presidente tentava na sua gestão trocar o chefe da PF para interferir em investigações-- para barrar a posse do delegado.
"O crime dele no momento, o errado, seria errado entre aspas, foi por ter participado da minha segurança, é a proximidade para comigo e eu tenho certeza que, com esse currículo, com esse passado do delegado Ramagem, vai fazê-lo com que à frente da Polícia Federal, ela tenha mais liberdade ainda, se bem que ela sempre teve liberdade, para exercer o seu trabalho", disse
Na prática, embora o presidente insista na revisão da liminar, não há decisão do Supremo a ser revertida quanto à posse de Ramagem para o comando da PF, uma vez que tecnicamente não há mais o que questionar, já que o próprio governo publicou no Diário Oficial da União a desistência da nomeação de Ramagem para o cargo e seu retorno para a direção-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
(Reportagem de Ricardo Brito)