BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro lamentou nesta quinta-feira a declaração de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sobre AI-5, disse que o filho estava pronto para se desculpar e ressaltou que não tem nenhum interesse no autoritarismo.
Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, na TV Band, Bolsonaro disse que não pensa em uma arma como o AI-5, lembrou que tanto ele quanto o filho, que é deputado federal, foram eleitos de maneira democrática e defendeu que o país não se atenha a “assuntos menores”.
“Eu falei para ele ‘se desculpa junto àqueles que porventura não interpretaram você corretamente’. E ele falou ‘não tem problema nenhum’”, disse o presidente, ao explicar o contexto da fala de Eduardo sobre o ato institucional do regime militar.
“Ele fala que no contexto lá dos anos 1960, o Brasil viveu um momento difícil aqui também e que o AI-5 foi quase uma imposição. Mas ele fala também que o AI-5 não existe. Essa arma não existe, tá? E nem queremos e nem pretendemos falar em autoritarismo da nossa parte”, disse, na entrevista, aproveitando para se dizer chateado por “qualquer palavra” tornar-se um “tsunami”.
“Se lamenta essa notícia aqui em parte distorcida, mas meu filho está pronto para se desculpar , tendo em vista ter sido mal interpretado”, acrescentou o presidente.
Mais cedo, ao sair do Palácio da Alvorada, lamentou a declaração do filho, embora, na ocasião, afirmasse não conhecer o comentário.
“Quem quer que esteja falando de AI-5 está sonhando. Está sonhando! Está sonhando!”, disse Bolsonaro a jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada.
Indagado se cobraria seu filho pela declaração, o presidente mostrou irritação.
“Cobre você dele. Ele (Eduardo) é independente, tem 35 anos. Se ele falou isso, eu não estou sabendo, eu lamento. Lamento muito”, disse.
Em entrevista à jornalista Leda Nagle, divulgada no Youtube, Eduardo disse que a edição de um novo AI-5, instrumento que marcou o endurecimento da ditadura militar no país, poderia ser a resposta do governo do pai a uma eventual radicalização da esquerda.
Mais tarde, Eduardo publicou um vídeo numa rede social no qual pediu desculpas.
"Não fico nem um pouco constrangido de pedir desculpas a qualquer tipo de pessoa que tenha se sentido ofendida ou imaginado o retorno do AI-5", disse o deputado no vídeo.
Não é a primeira vez que Eduardo gera polêmica com declarações de viés autoritário. Durante a campanha eleitoral do ano passado, o parlamentar, que foi o deputado federa mais votado da história do país, disse que seriam necessários apenas um soldado e um cabo em um jipe para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Na ocasião, Bolsonaro reagiu à fala do filho afirmando que “advertiu o garoto”, e Eduardo se desculpou pela fala.
O presidente pretendia indicar o filho para embaixador do Brasil nos Estados Unidos, mas diante da falta de apoio no Senado, que precisa referendar a indicação, e de uma briga interna no PSL que fez com que o deputado assumisse a liderança da legenda na Câmara dos Deputados, Eduardo anunciou que abria mão da indicação.
(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo, e Maria Carolina Marcello, em Brasília)
(Edição de Alexandre Caverni)