ASSUNÇÃO (Reuters) - Os governos de Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai pediram à Argentina que deixe de aplicar medidas restritivas à navegação pela hidrovia Paraguai-Paraná, depois de a nação ter retido uma embarcação por causa da cobrança de um polêmico pedágio.
Os cinco países são sócios no canal fluvial de mais de 3.400 quilômetros de extensão, crucial para o transporte de grãos até os portos.
O Paraguai tem questionado a cobrança de um pedágio no trecho argentino da hidrovia. O país vizinho afirma que a tarifa se justifica pelos custos que tem de manutenção. A tensão aumentou na semana passada, com o embargo e a interdição da saída de um barco que transportava combustível da empresa paraguaia Mercurio Group, que deveria zarpar rumo a Assunção.
O Paraguai obteve apoio dos outros sócios, para um comunicado conjunto que lamentou a aplicação do pedágio, considerada uma ação estabelecida “unilateral e arbitrariamente” e “à margem” dos acordos “e disposições regulamentares internacionais vigentes”.
No comunicado, os países expressaram “especial preocupação por se tratar de uma restrição à liberdade de trânsito e bens estratégicos e sensíveis para um país signatário que teve comprometido o abastecimento de combustível e que pode afetar o preço de tal insumo”.
O Paraguai disse recentemente que irá ao Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul para resolver a disputa.
A hidrovia, um corredor natural de transporte fluvial que passa pelos rios Paraná e Paraguai, é chave para o transporte de soja que a Argentina importa e destina à fabricação de azeite e farinha.
Dos 7,19 milhões de toneladas de soja que o país importou nos primeiros sete meses deste ano, cerca de 50,9% tiveram origem no Paraguai e 45,2% no Brasil, de acordo com dados oficiais da Argentina.
As processadoras argentinas aumentaram significativamente suas compras de soja dos países vizinhos devido à seca histórica que reduziu pela metade a colheita na temporada 2022/2023.
(Reportagem de Daniela Desantis em Assunção; reportagem adicional de Maximilian Heath e Lucila Sigal em Buenos Aires)