O Brasil não investiu nem 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em infraestrutura de 2022 a 2024. Desses investimentos, ⅔ são provenientes do setor privado, segundo um estudo elaborado pelo economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, para o Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura).
As maiores deficiências são vistas em obras de transportes e em saneamento básico. Ao Poder360, o economista disse que as prioridades devem ser mobilidade urbana e gerenciamento de águas pluviais –urgência salientada pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano.
“Ainda temos municípios com lixões com resíduos que não são bem manejados. Outro ponto é o esgoto. Hoje, as pessoas perceberam a dimensão que as águas pluviais tem nas regiões urbanas. O [caso] do Rio Grande do Sul apavorou todo mundo. As obras devem ser integradas, com concessões otimizadas”, disse.
Atualmente, o estoque de capital do segmento representa 35,5% do PIB. O economista estimou que, para atingir o ponto ideal, deveria representar 60%. Para chegar a esse patamar, o país deve investir cerca de 4% do PIB nos próximos 25 anos, com uma expansão anual dos investimentos em cerca de 0,2%.
Investimentos no segmento caíram
O segmento ficou desidratado nos últimos 10 anos por escândalos de corrupção que culminaram na operação Lava Jato. Em 2014, investimentos em obras de energia elétrica, telecomunicações, saneamento e transporte representavam 2,35% do PIB. Em 2024, representam 1,85%– uma redução de 21%, segundo o estudo.
O menor patamar desde 2010 foi atingido em 2019, quando os gastos representaram só 1,6% daquele ano. A participação do governo também caiu, com 0,98% em 2014, atingindo o menor nível em 2020, com 0,5%. Em 2022, foi de 0,68%. Hoje, a participação do Estado nos investimentos em relação ao PIB é de 0,61%.
O estudo foi lançado no evento de 65 anos do Sinicon. O presidente da entidade, Cláudio Medeiros, elogiou a atuação do governo federal em retomar o segmento e criticou o desgaste sofrido na última década, ao dizer que “irracionalmente” o país abriu mão desse mercado.
Em um gesto de aproximação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), discursaram no evento o secretário especial do Programa de Parcerias de Investimentos, Marcus Cavalcanti, e o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços, Uallace Moreira.
Em agosto de 2023, Lula lançou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que visa destinar R$ 1,7 trilhão até 2026– que inclui R$ 371 bilhões do governo e R$ 612 bilhões do setor privado. Os eixos de atuação incluem transporte eficiente e sustentável; água para todos; inclusão digital e conectividade e transição energética.
Em 2024, o governo ainda lançou o PAC Seleções, que é uma nova etapa do PAC para seleção de projetos indicados por prefeituras e governos estaduais. A maior parcela dos recursos foram destinados a obras de macrodrenagem (R$ 15,5 bilhões), enquanto as de mobilidade urbana receberam R$ 6,5 bilhões.
O governo federal espera fazer um novo lançamento do programa em 2025.