Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O calor intenso e a falta de chuvas têm impactado negativamente as lavouras de soja do Paraná, um dos principais Estados produtores do Brasil, reduzindo produtividades esperadas no ciclo 2023/24, o que deve impactar a colheita estadual, afirmou nesta terça-feira o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão do governo local.
Eventuais cortes na produção do Paraná, que tradicionalmente disputa com o Rio Grande do Sul a condição de segundo produtor de soja do Brasil, poderiam pressionar a colheita nacional, já bastante afetada pela seca e temperaturas elevadas que atingiram áreas do Centro-Oeste, antes das chuvas voltarem para o norte do país.
Na quarta-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai atualizar seu números de safra do Brasil, que vêm sendo observados de perto pelo mercado global, uma vez que o país é o maior produtor e exportador mundial.
Com a colheita recém-iniciada no Paraná, o Deral reduziu a avaliação para a safra de soja do Estado, agora vendo 71% das áreas em "boa" condição, versus 86% nessa situação na semana anterior, enquanto aumentou para 5% a fatia da lavoura em situação "ruim", versus 1% na semana anterior.
"De fato, o calor intenso de dezembro e neste início de janeiro está impactando negativamente as lavouras, fatalmente isto vai resultar em uma produtividade menor. Em algumas lavouras, a perda já é irreversível", afirmou o especialista em soja do Deral Edmar Gervásio, ao ser questionado pela Reuters.
Segundo ele, o Paraná está "sem chuvas significativas na maior parte do Estado desde a segunda quinzena de dezembro".
Ele acrescentou que colheita de soja do Estado poderia ficar abaixo de 21 milhões de toneladas, ante previsão atual de 21,7 milhões, caso chuvas não retornem na próxima semana.
"Possivelmente as perdas poderão ser significativas, se não ocorrer chuva na próxima semana. Claro que ainda não é possível cravar um número, porém pelos relatos de campo a produção já pode ser inferior a 21 milhões de toneladas", afirmou.
Pelos números atuais do Deral, a safra já teria queda de 3% na comparação com o recorde de mais de 22 milhões de toneladas da temporada anterior.
De acordo com dados do terminal da LSEG, o Paraná verá chuvas abaixo da média para os próximos sete dias. Os maiores volumes, em torno de 45 mm, estarão concentrados nas áreas mais próximas do litoral.
No interior do Estado, onde estão as principais áreas produtoras, o oeste verá menos de 10 mm ao longo da próxima semana, o noroeste (15,6 mm) e o norte entre 20 mm e 30 mm.
COLHEITA
Os números do Deral apontam que 1% da área plantada no Estado, de 5,8 milhões de hectares, está colhida, mostrando alguma antecipação ante o ano anterior, quando o departamento não tinha ainda apontado número de colheita nesta época.
O Deral indicou também que 16% da áreas do Estado estão em maturação, contra apenas 2% das áreas nesta condição no mesmo período do ano passado.
Segundo Gervásio, a colheita neste momento é reflexo principalmente do plantio, que aconteceu já no "início da janela". "E a colheita para estas lavouras já é normalmente na primeira quinzena de janeiro."
A Coamo, maior cooperativa agrícola do Brasil, com sede no Paraná, indicou nesta terça-feira fortes recebimentos de soja já em janeiro, uma vez que a safra antecipou seu ciclo devido ao calor mais intenso, e a colheita começou mais cedo na temporada 2023/24.
O presidente-executivo da Coamo, Airton Galinari, estimou que a colheita da soja no Paraná antecipou entre 10 a 15 dias nesta safra.
Galinari mostrou alguma preocupação com a falta de chuvas para o plantio da segunda safra de milho, realizado logo após a colheita de soja.
O Deral ainda não registra plantio de milho segunda safra, enquanto apontou que 1% do milho verão do Estado está colhido, também com os registros começando nesta semana.
(Por Roberto Samora)