Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que a independência do Banco Central é importante porque desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político, comentário que veio em meio a fortes críticas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autonomia da autarquia e ao patamar da taxa de juros.
Em palestra no evento 2023 Milken South Florida Dialogues, em Miami, Campos Neto usou a maior parte de seu discurso para falar sobre temas de inovação digital, mas disse brevemente em resposta a uma pergunta que a independência do BC é "muito importante", por várias razões diferentes.
"A principal razão no caso da autonomia do Banco Central é que desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político, porque eles têm durações diferentes e interesses diferentes. Quanto mais independente você é, mais eficaz você é, menos o país pagará em termos de custo de ineficiência da política monetária", disse Campos Neto antes de voltar a falar sobre a agenda de inovação da autarquia.
Lula e membros de sua administração têm criticado de forma recorrente a taxa de juros elevada, atualmente em 13,75%, e a independência do BC, com o petista afirmando que a instituição não faz mais agora do que quando seu presidente era trocado sempre que um novo governo assumia. O mercado financeiro tem reagido mal a esses atritos, temendo tentativas de intervenção do Executivo na autoridade monetária.
No evento desta terça-feira, Campos Neto defendeu a importância da criação de um real digital, dizendo que o Banco Central busca se mover em direção a um sistema que integre a divisa digital ao Pix e ao Open Finance.
Em apresentação preparada para a palestra, o presidente do BC disse que "nossa ideia é iniciar um projeto piloto em 2023 e, se tudo correr como planejado, a CBDC (moeda digital de banco central) brasileira pode estar funcionando no final de 2024 ou no início de 2025".
Em dezembro do ano passado, Campos Neto havia dito que a autarquia pretendia lançar o real digital em 2024, sem especificar em que período do ano isso aconteceria.