Por Anna-Catherine Brigida e Maximilian Heath
BUENOS AIRES (Reuters) - A corrida presidencial da Argentina tem um fator imprevisível: Javier Milei, um libertário impetuoso e de cabelos desgrenhados que usa jaquetas de couro, canta rock para seus simpatizantes e chama os oponentes políticos de "ladrões".
O economista de 52 anos, cujo exibicionismo lembra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, conquistou a maior fatia dos votos nas eleições primárias abertas no domingo, agitando a disputa para definir o próximo presidente do país.
Ele saltou de uma relativa obscuridade há alguns anos para agora ter uma chance real de ocupar a Presidência do país sul-americano, com seus comícios combativos ao estilo rock apelando aos eleitores irritados com a inflação de 116% e o aumento da pobreza.
Ele prometeu "explodir" o status quo político, fechar o banco central, dolarizar a economia e encolher massivamente o Estado -- ideias que conquistaram muitos eleitores, especialmente os jovens, após anos de declínio econômico.
"Milei é um fenômeno", disse Benjamin Gedan, diretor dos programas para América Latina e Argentina do centro de estudos Wilson Center, com sede em Washington, acrescentando que sua ascensão abalou os dois principais blocos políticos.
"Sua mensagem de que os dois lados estão errados ressoa entre os eleitores fartos dos partidos políticos tradicionais. E há legiões desses eleitores."
O forte desempenho de Milei transformou a eleição de 22 de outubro em uma disputa a três, desafiando a coalizão governista peronista e o principal grupo conservador de oposição Juntos pela Mudança, que ficaram logo atrás dele nas primárias.
Quer ele vença ou não, seu partido terá influência significativa no Congresso e ele terá uma plataforma poderosa para suas visões econômicas pouco ortodoxas, provavelmente pressionando qualquer governo no poder se virar à direita.
Em evento de encerramento de campanha na semana passada, Milei entrou em uma arena, cantando e cercado por simpatizantes. Ele criticou a "casta" da elite política que ele chama de "ladrões" que tiram dinheiro do bolso dos eleitores.
"Estamos enfrentando o fim do modelo de castas", disse ele após os resultados das eleições primárias. "Hoje nos levantamos para dizer basta ao modelo de decadência. Hoje demos o primeiro passo para a reconstrução da Argentina."
Seus apoiadores entoaram: "Milei presidente!".
Ex-músico de rock e atleta, Milei se opõe ao aborto e apoia o direito às armas. Ele criticou as leis trabalhistas favoráveis aos trabalhadores como um "câncer", disse que o Estado é a "base de todos os problemas" e elogiou o gângster norte-americano Al Capone como um herói.
A ascensão de Milei reflete uma tendência regional mais ampla nos últimos anos que viu políticos latino-americanos de fora dos partidos tradicionais ganharem destaque com promessas de romper o status quo.
"As pessoas estão fartas doa políticos", disse Adriano Gabriel Zoccola, um advogado de 31 anos de Buenos Aires que apoia Milei por causa de suas propostas econômicas e planos de cortar gastos do governo e reduzir o número de ministérios.
"Se a Argentina vai ter uma mudança real, algo completamente diferente tem que surgir. Acho que Javier é a pessoa certa", acrescentou Zoccola, que afirmou já ter votado anteriormente no Juntos pela Mudança.
Os oponentes dizem que as propostas de Milei não são realistas. Isso inclui o plano de dolarizar a economia, algo que a maioria dos argentinos se opõe, apesar da rápida depreciação do peso e da alta inflação. Uma paridade dólar-peso introduzida por razões semelhantes na década de 1990 trouxe benefícios de curto prazo, mas terminou em uma desvalorização turbulenta.
Diana Mondino, economista e assessora de Milei que está concorrendo ao Congresso pelo partido dele, disse que a reputação de inflexível do candidato era a razão pela qual muitas pessoas não gostavam dele, mas também foi o que o tornou bem-sucedido.
"Ele não está disposto a negociar", declarou Mondino. "Ele está disposto a dizer: 'O que precisamos para fazer as coisas?' Pode doer, mas vai ser feito."