O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira, 22, que a cautela da autarquia na condução dos juros se deve a motivos positivos, ao apontar mais uma vez ao paradoxo, pouco usual, entre o desempenho resiliente da atividade econômica e o comportamento da inflação, em queda.
Usando a linguagem empregada nos documentos do BC, Galípolo ressaltou que a autoridade monetária tem defendido serenidade e parcimônia justamente por os indicadores econômicos estarem vindo melhores do que o esperado.
A correlação incomum entre variáveis econômicas leva a uma cautela em relação ao futuro pelos bancos centrais não só do Brasil mas também do resto do mundo. As autoridades monetárias se tornaram mais "data dependent" - ou seja, preferem aguardar a divulgação dos dados e reação do mercado para tomar decisões.
Durante participação em evento na capital paulista da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, Galípolo comentou que há um consenso de que essa posição cuidadosa dos bancos centrais é menos nociva.
Ele pontuou que, apesar dos juros elevados, a economia segue apresentando resiliência, citando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado duas vezes superior ao potencial. "Mesmo assim, a trajetória de inflação foi comportada."
Galípolo assinalou que o mercado pode fazer apostas, porém o BC, diante das incertezas sobre como as variáveis vão se comportar, joga "na defesa" para causar o "mínimo de dano ao paciente". Ponderando as dificuldades em acertar previsões, o BC, pontuou, tem preferido reagir à medida que os indicadores são revelados. Nesse sentido, ele voltou a destacar que, até a próxima reunião, entre 19 e 20 de março, o Comitê de Política Monetária (Copom) contará com mais três medições do IPCA.
Ao citar possíveis explicações de o Brasil conseguir crescer mesmo com os juros em terreno contracionista, Galípolo disse que, além da contribuição da safra agrícola recorde, as reformas estruturais podem ter gerado ganhos de produtividade e elevado o PIB potencial.
Efeito da queda dos juros nas economias desenvolvidas nos investimentos a emergentes
O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou ainda que a queda dos juros nas economias desenvolvidas, aguardada para este ano, deve ajudar a atrair investimentos para mercados emergentes, que foram impactados pelos maiores retornos pagos pelos títulos emitidos nos países ricos.
Galípolo observou que cerca de US$ 6 trilhões do chamado money market - ou seja, o mercado monetário - aguardam a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de iniciar o corte de juros para serem direcionados a novos mercados. O diretor do BC lembrou que os países desenvolvidos, após os estímulos fiscais da pandemia, saíram da crise sanitária mais endividados, o que, junto com a elevação de juros que se deu na sequência, resultou em um maior esforço na rolagem da dívida. A situação puxou junto o custo de financiamento dos emergentes, que agora podem ter um alívio com a redução dos juros nos Estados Unidos e na Europa. "Os países centrais se endividaram mais, mas os emergentes pagam a maior parte da conta", comentou.
Galípolo ressaltou, no entanto, que, mesmo diante dos momentos de estresse dos Treasuries, a taxa de câmbio mostrou bom comportamento no Brasil, em razão de um diferencial de juros ainda atrativo e dos resultados robustos da balança comercial, que contribuíram a uma posição relativamente privilegiada das contas externas.