Por Simon Johnson e Douglas Busvine
ESTOCOLMO/BERLIM (Reuters) - Dois norte-americanos e um britânico receberam o Prêmio Nobel de Medicina de 2020 nesta segunda-feira por identificarem o vírus da Hepatite C, um trabalho de décadas que ajudou a limitar a disseminação da doença fatal e desenvolver remédios antivirais para curá-la.
Graças às descobertas dos cientistas norte-americanos Harvey Alter e Charles Rice e do britânico Michael Houghton, agora existe a chance de se erradicar o vírus da Hepatite C – uma meta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende atingir na próxima década.
Os três dividirão um prêmio equivalente a 1,1 milhão de dólares por terem descoberto e provado que um vírus transmitido pelo sangue pode causar a Hepatite C, que aflige mais de 70 milhões de pessoas e provoca cerca de 400 mil mortes todos os anos.
"Esta é uma notícia enorme, e sem dúvida reiniciará os esforços para se eliminar a Hepatite C como ameaça global até 2030", disse o professor Gregory Dore, chefe do Programa de Pesquisa Clínica de Hepatite Viral do Instituto Kirby de Sydney, na Austrália.
As indicações para o prêmio deste ano antecederam a propagação mundial da pandemia do novo coronavírus, mas a escolha dos vencedores reconhece a importância de se identificar um vírus como o primeiro passo para se vencer a batalha contra uma doença nova, disse Thomas Perlmann, secretário-geral da Assembleia do Nobel.
Perlmann disse que conseguiu contatar Alter e Rice de manhã nos Estados Unidos. "Eles ficaram muito surpresos, felizes e sem palavras", disse ele aos repórteres.
Trata-se do segundo Nobel de Medicina concedido à pesquisa sobre hepatite – Baruch Blumberg o recebeu em 1976 por determinar que uma forma da doença é causada por um vírus que se tornou conhecido como Hepatite B. A Hepatite A, que é fácil de tratar, é transmitida por água ou alimentos contaminados.
"Antes da descoberta do vírus da Hepatite C, receber uma transfusão de sangue era parecido com uma roleta russa", disse Nils-Goran Larsson, membro do Comitê do Nobel, acrescentando que agora milhões podem receber transfusões e produtos sanguíneos com segurança.
A honraria compartilhada reconhece pesquisas que datam dos anos 1960, quando Alter, que estava trabalhando no Instituto Nacional de Saúde dos EUA, descobriu que doenças hepáticas que não eram causadas pelas Hepatites A ou B podem se disseminar através de transfusões de sangue.