Por Andrea Shalal
WASHINGTON (Reuters) - A epidemia de coronavírus já interrompeu o crescimento econômico na China e uma maior disseminação para outros países pode inviabilizar uma recuperação projetada "altamente frágil" para a economia global em 2020, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quarta-feira.
Em uma nota para os ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20, o credor global mapeou muitos riscos que a economia global enfrenta, incluindo a doença e um aumento renovado das tensões comerciais entre EUA e China, além de desastres relacionados ao clima.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o surto é um lembrete de como os imprevistos podem ameaçar uma recuperação frágil e instou os formuladores de política econômica do G20 a trabalharem para reduzir outras incertezas ligadas ao comércio, mudanças climáticas e desigualdade.
"A incerteza está se tornando o novo normal", escreveu Georgieva em um blog publicado no site do FMI. "Embora algumas incertezas --como doenças-- estejam fora do nosso controle, não devemos criar novas incertezas onde possamos evitá-las."
Ministros das Finanças e banqueiros centrais das 20 principais economias mais industrializadas se reunirão em Riyadh, na Arábia Saudita, nesta semana, ainda incertos sobre o impacto do coronavírus, conhecido como COVID-19.
Apesar do surto, o FMI afirmou que está mantendo sua previsão de janeiro para um crescimento de 3,3% na economia global este ano, acima dos 2,9% de 2019. O dado representa um corte de 0,1 ponto percentual em relação à previsão de outubro.
O organismo disse que a recuperação seria superficial e poderia ser prejudicada pelo aumento das tensões comerciais ou por uma disseminação adicional da doença, que já havia interrompido a produção na China e poderia afetar outros países por meio do turismo, vínculos na cadeia de suprimentos e preços das commodities.
A China disse que ainda pode cumprir sua meta de crescimento econômico para 2020, apesar da epidemia. Georgieva disse que o FMI espera apenas uma pequena redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, a menos que um surto prolongado agrave a desaceleração.
Mesmo nos melhores casos, a taxa projetada de crescimento global é modesta, disse Georgieva, instando os formuladores de política econômica do G20 a agir para reduzir as tensões comerciais, mitigar as mudanças climáticas e combater as desigualdades persistentes.
Ataques cibernéticos, uma escalada das tensões geopolíticas no Oriente Médio ou um colapso nas negociações comerciais entre China e Estados Unidos podem impedir a recuperação global de curto prazo, disse o FMI. Desastres relacionados ao clima, protecionismo e agitação social e política desencadeada pela desigualdade persistente representam mais riscos econômicos.
Em seu blog, Georgieva disse que a Fase 1 de um acordo comercial entre EUA e China eliminou algumas consequências negativas das tensões comerciais, reduzindo a influência negativa no PIB global em 0,2% em 2020, ou cerca de um quarto do impacto total.
Mas a Fase 1 deixou muitas tarifas em vigor e continha acordos comerciais gerenciados que poderiam distorcer o comércio e o investimento e custar à economia global muitos bilhões de dólares, disse ela.
A chefe do FMI também citou novas estimativas do fundo de que um desastre natural típico relacionado ao clima reduziu o crescimento em uma média de 0,4 ponto percentual no país afetado no ano em que ocorreu.
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Para responder, os formuladores de política econômica devem se concentrar na diversificação de fontes de energia e no investimento em infraestrutura resiliente.
Georgieva disse que também é fundamental abordar persistentemente as desigualdades de renda e riqueza que, segundo ela, podem fomentar a desconfiança no governo e contribuir para agitação social.
Os ministros poderiam agir nesta semana, concentrando-se em elevar os padrões de vida e criar empregos com melhores salários por meio de investimentos em educação, pesquisa e digitalização de alta qualidade, disse ela.