BRASÍLIA (Reuters) - A diretora do Banco Central Fernanda Guardado disse nesta quinta-feira que as projeções de mercado incorporadas ao cenário de referência do Copom apontam que cortes de juros a partir de junho do ano que vem seriam compatíveis com o objetivo de fazer a inflação convergir para as metas em 2024.
Mas, falando em evento da UBS Brasil Administradora de Valores, ela ressaltou que surpresas e mudanças na trajetória econômica podem impactar essas projeções.
"Quero reforçar que não é o nosso foco agora 'timing' de corte de juros, a gente está observando se esse processo de desinflação se desenrola da forma que a gente projeta, tem vários riscos nessa caminhada", disse a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, ao responder a uma pergunta.
Guardado ponderou, ainda, que as grandes incertezas que têm marcado a economia global e brasileira no período recente têm reduzido a confiança das projeções de prazo mais longo.
Ela também chamou a atenção em sua fala inicial para o fato de a inflação, tanto no Brasil como no mundo, ter recentemente se deslocado de bens para serviços, em que a inércia tende a ser mais elevada, o que exige "ação mais contundente" por parte dos bancos centrais.
ATIVIDADE
Sinais recentes na atividade e no crédito no Brasil chancelam percepção do BC de que o aperto monetário promovido pelo banco começa a se refletir na economia no segundo semestre do ano, disse Guardado.
"Mas essa convergência para o centro da meta só vai estar mais evidente, só vai estar claro, bem mais à frente", afirmou. "Dadas todas as incertezas que ainda permeiam o cenário, nós vamos precisar ter bastante paciência e serenidade para observar esta convergência."
Ainda falando sobre a atividade, Guardado afirmou que há um debate em torno da possibilidade de o hiato do produto, que mede a ociosidade da economia, estar ou não mais perto da neutralidade na economia brasileira. Ela ressaltou que é difícil medir esse indicador em tempo real, ainda mais em momentos de grandes incertezas, mas afirmou que o BC tem confiança de que nos próximos trimestres a tendência é de abertura do hiato do produto.
Quanto maior o nível de ociosidade da economia, menor a pressão sobre a inflação.
Guardado afirmou, ainda, que a decisão do BC de dar ênfase em sua política monetária à inflação no horizonte de seis trimestres à frente é condicionada à perspectiva de que os tributos sobre os combustíveis, que foram reduzidos provisoriamente este ano, sejam retomados em 2023.
"Dependendo de como essa incerteza se desenrola a gente vai continuar ou não dando ênfase a essa janela", disse a diretora.
Questionada sobre como o BC está vendo as discussões na equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva sobre política fiscal e acomodação de gastos no Orçamento de 2023, Guardado disse que a autoridade monetária aguarda que as decisões sejam efetivamente tomadas para incorporá-las ao seu cenário.
(Por Isabel Versiani)