Por Paula Arend Laier
(Reuters) - Economistas do Credit Suisse estimam que o cenário de reformas no Brasil deve continuar nos próximos dois anos, quando esperam aprovações de algumas propostas, que combinadas com uma agenda mais 'amigável' ao mercado, devem proporcionar um ambiente de inflação e juros baixos, com crescimento mais forte da economia.
"Nosso cenário base assume que esse ambiente mais reformista provavelmente continuará nos próximos dois anos, com o governo avançando nas agendas fiscal e de produtividade", afirmaram Leonardo Fonseca e Lucas Vilela, em documento para apresentação das estimativas.
A equipe do banco prevê alta de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, que deve acelerar para 2,5% em 2020 e 2,7% em 2021, em movimento puxado principalmente pela demanda doméstica, particularmente consumo das famílias e investimentos.
No que diz respeito ao comportamento da inflação, veem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 3,7% neste ano e 3,9% em 2020, abaixo do centro da meta do Banco Central de 4,0%.
"Alta capacidade ociosa e expectativas de inflação ancoradas provavelmente permitirão que a inflação permaneça baixa nos próximos trimestres, mesmo em um cenário de taxa de câmbio mais depreciada", ponderaram.
Fonseca e Vilela avaliam que balanço favorável de riscos para a inflação e a manutenção de políticas monetárias expansionistas em mercados desenvolvidos devem permitir que o Banco Central reduza a Selic para 4,5% ao ano neste mês, taxa que deve permanecer ao longo de 2020, mas voltar a 6% em 2021.
Quanto à taxa de câmbio, eles estimam cotação que deve ficar relativamente estável em 4,20 reais por dólar em 2020.
"Por um lado, os modelos de taxa de câmbio real indicaram que a taxa nominal está aproximadamente 10% depreciada. Por outro lado, o menor diferencial da taxa de juros para os mercados desenvolvidos deve continuar pressionando a taxa de câmbio no curto e no médio prazo", escreveram.
Os economistas também não descartam uma possível elevação na nota de crédito do país por agências de classificação de risco no próximo ano, destacando que, atualmente, o Brasil está classificado três níveis abaixo do grau de investimento pela S&P e Fitch e dois abaixo pela Moody´s.
"A aprovação da reforma da Previdência e esperada aprovação de outras medidas fiscais devem melhorar as perspectivas de contas públicas no médio prazo e, consequentemente, melhorar os ratings do Brasil atribuído pela S&P e Fitch de 'BB-' para 'BB'", avaliam.
Para Fonseca e Vilela, a desaceleração econômica global é o principal fator de risco para a dinâmica da economia brasileira nos próximos anos e pode afetar o país principalmente pela redução das exportações e condições financeiras, por meio da aversão a risco nos mercados financeiros internacionais.
Do cenário doméstico, o principal risco vislumbrado pelos economistas ainda é a disposição do Congresso de progredir nas agendas fiscais e de produtividade.
"Do lado positivo, os líderes do Congresso são capazes de aprovar uma agenda mais ampla de medidas favoráveis ao mercado. Do lado negativo, a demanda por flexibilização das regras fiscais (por exemplo, limite de gastos) ou para agendas legislativas alternativas (por exemplo, combate à corrupção) pode desencadear uma mudança no foco do Congresso na agenda econômica."