Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A vacina russa contra Covid-19 Sputnik V não foi testada no Brasil no ano passado, ao contrário do afirmado pelos desenvolvedores do imunizante em documento enviado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), informou o diretor-presidente do órgão regulador brasileiro, Antonio Barra Torres, nesta sexta-feira.
"Isso não aconteceu", disse Torres, em entrevista à GloboNews, exibindo documento que disse ter sido enviado pelos desenvolvedores da Sputnik V à agência que mostra o Brasil entre os países onde a vacina estaria sendo testada em 2020.
A Anvisa e os desenvolvedores da vacina estão numa queda de braço desde que a agência rejeitou na segunda-feira liberar a importação da Sputnik V. Entre as alegações, o órgão disse que faltavam documentos para atestar a segurança, eficácia e qualidade do imunizante.
No achado mais grave, segundo a agência, foi constatada a presença de adenovírus replicante na formulação da vacina. "A replicação viral está atestada nos documentos do próprio desenvolvedor e coloca de maneira muito clara, ostensiva", disse Barra Torres.
Os desenvolvedores da vacina negam a existência de adenovírus replicante no imunizante e disseram que a Anvisa tomou uma decisão política ao rejeitar a Sputnik.
"Comentários recentes imprecisos e enganosos da agência reguladora brasileira Anvisa alegaram a detecção de adenovírus replicado (RCA), uma partícula viral enfraquecida que não causa nem um resfriado comum, na Sputnik V. O Instituto Gamaleya confirma que nenhum RCA foi detectado em nenhum dos lotes da vacina Sputnik V", disse o Gamaleya em comunicado nesta sexta-feira.
"A Anvisa embora inicialmente tenha dito que detectou RCA, admitiu que não realizou nenhum teste com a vacina e que se referia a um limite regulatório na Rússia sobre a potencial presença de RCA", acrescentou.
Na entrevista, Barra Torres disse que não faz parte dos protocolos da Anvisa fazer testes com a vacina, mas apenas a análise documental. "A replicação viral ela não se dá dentro de um frasco, se dá no organismo humano", afirmou.