BRASÍLIA (Reuters) - Logo após ser anunciado como futuro ministro da Agricultura, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) disse nesta quinta-feira que está do mesmo lado de Marina Silva, anunciada como ministra do Meio Ambiente, até porque o "desmatamento ilegal fere de morte o agronegócio".
"Primeiro queremos buscar a pacificação através das boas práticas agrícolas. Combater o desmatamento ilegal, isso fere de morte o agronegócio, perde mercado. Além de perdermos o clima, perdermos o principal ativo que temos para a produção brasileira, que é um clima estável --por isso temos essa grande produção--, estamos perdendo mercados mundo afora", declarou ele a jornalistas.
Ele destacou que o novo governo deverá trabalhar linhas de crédito "para que possamos converter pastagens degradadas em áreas de agricultura", o que reduz pressão para o desflorestamento.
"Isso vai fomentar o crescimento da produção, a ideia é que em 20 anos podemos dobrar a área produtiva e tirar a pressão sobre o desmatamento", comentou, em referência ao uso de pastagens degradadas para ampliar as terras agricultáveis.
Ele disse que já começou a conversar com a futura ministra do Meio Ambiente.
"O principal ponto: estamos todos do mesmo lado, queremos ter produção agrícola carbono neutro, que ganhe mercados internacionais e precisamos de licenças e parcerias com o meio ambiente para fazer os produtos mais equilibrados e sustentáveis do mundo."
Fávaro, que integrou o grupo de agricultura da equipe de transição de governo, reforçou que o governo não vai tolerar o desmatamento ilegal, mas indicou que o desflorestamento feito legalmente, conforme está previsto no Código Florestal, poderia ocorrer em um primeiro momento.
"Não podemos admitir o ilegal, para ter o líquido zero precisamos ter pagamento por serviços ambientais", afirmou, em referência ao fato de agricultores precisarem ser pagos, se renunciarem ao direito de cultivar em áreas que podem ser legalmente desmatadas.
A aceitação do desmatamento legal, contudo, está com os dias contados, pelos menos de acordo com importantes compradores de grãos e oleaginosas.
Pressionadas por consumidores, as principais tradings multinacionais estabeleceram metas para excluir da cadeia produtiva os agricultores que cultivem em áreas desmatadas, ainda que legalmente, a partir de 2025 e 2030.
O futuro ministro também deu um recado aos integrantes do setor que não o apoiaram em um primeiro momento.
O senador, que foi presidente da associação de produtores de soja e milho de Mato Grosso há cerca de dez anos e vice-governador do Estado, foi contestado por integrantes da Aprosoja-MT, logo após a eleição.
"O governo de Lula é de diálogo, está aberto a conversar com quem está fazendo as coisas certas. E a imensa maioria está fazendo as coisas certas. Com esses, estamos abertos, para o Brasil produzir cada vez mais alimento", declarou.
Ele ainda falou que o novo governo vai fortalecer o orçamento da Embrapa e seguirá priorizando o seguro rural, cujos valores para subvenção poderão ser aumentados.
O futuro ministro acredita que Lula poderá atuar como "maior embaixador do Brasil" para a expansão de mercados aos produtos do agronegócio brasileiro.
"E, mais importante, usar o excesso de produção para matar a fome, para que o brasileiro possa viver melhor, e cumprirmos o principal compromisso de Lula, para todo brasileiro tomar café da manhã, almoçar e jantar...".
(Por Lisandra Paraguassu)