A briga dos herdeiros do construtor Waldomiro Zarzur por um espólio bilionário se transformou em caso de polícia depois de dois irmãos, filhos do patriarca, pedirem a abertura de um inquérito policial para investigar a situação. A batalha envolve Adele Zarzur, que já tinha entrado com uma ação na Justiça pedindo a reabertura do inventário do patriarca, contra os irmãos Roberto e Ricardo, que estão à frente da gestão do grupo deixado pelo pai, que morreu há uma década.
O que está em jogo é uma fortuna deixada pelo patriarca. Quando Waldomiro faleceu, em 2013, aos 91 anos, seu patrimônio era estimado em ao menos R$ 5 bilhões - uma montanha de bens incluindo usinas hidrelétricas, prédios comerciais, fazendas e hotéis, como o WZ, na esquina da Alameda Lorena com a Avenida Rebouças. O empreendimento mais famoso é até hoje um dos edifícios mais altos de São Paulo, o Mirante do Vale.
Trata-se de mais um capítulo de uma briga familiar que estava parada nos últimos anos, já que o processo tinha sido concluído em 2016 e a herança, distribuída entre os irmãos. No entanto, o inventário - o documento que detalha os bens da pessoa falecida para partilha de bens - foi reaberto recentemente.
Waldomiro era irmão de Ernesto Zarzur, que criou a Eztec (BVMF:EZTC3), empresa listada na Bolsa brasileira com um valor de mercado de R$ 4,4 bilhões e que não tem relação com o processo aberto por Adele Zarzur. Ernesto faleceu aos 87 anos, de causas naturais, no fim do ano passado.
Troca de acusações
Do lado de Adele, a batalha tem sido para provar que seus dois irmãos teriam ocultado bens que deveriam ter sido divididos igualmente entre os quatro filhos de Waldomiro. Ela e sua irmã mais nova, Gisele, saíram prejudicadas na partilha.
No pedido de abertura de inquérito, ela anexa uma série de documentos financeiros, incluindo uma série de acordos societários, que seriam uma prova de que teria havido ocultação de bens.
Do outro lado da disputa, Ricardo, em um segundo pedido de inquérito policial, também pede investigação, afirmando que a irmã utiliza documentos que foram "subtraídos de forma ilegal pastas e documentos de um dos escritórios", incluindo informações sigilosas de forma ilegal.
A Polícia Civil do Estado de São Paulo já acatou ambas as queixas e instaurou uma investigação para apurar se houve um eventual delito de estelionato.
Não acho que seja o direito penal o mais adequado para se discutir questões societárias." Pierpaolo Bottini, advogado criminalista que representa os irmãos no caso
O advogado criminalista que representa os irmãos, Pierpaolo Bottini, afirma que, na sua leitura, "não existe um elemento criminal do caso, a não ser a quebra de sigilo". "Não acho que seja o direito penal o mais adequado para se discutir questões societárias", diz.
Sobre a alegação de Adele, que diz ter sido prejudicada com a administração dos irmãos, Bottini afirma que foram contratados pareceres contábeis, que ajudarão a elucidar o caso. "Movimentações financeiras serão apresentadas."
Pedidos
Em seu pedido para instauração do inquérito, Adele, representada pelo escritório Warde Advogados, afirma que, após a morte do pai, passou a ter "fundadas suspeitas de irregularidades na administração de seus irmãos sobre as sociedades", que estão nas mãos dos irmãos. As filhas de Waldomiro, Adele e Gisele, estão afastadas do dia a dia das empresas.
No documento, as irmãs dizem ainda que os irmãos se negam a prestar contas e fazem a acusação de que a dupla utilizaria "laranjas" para colocar em prática a ocultação de bens. Nas dezenas de páginas seguintes são listadas todas as empresas do grupo e seus sócios, na tentativa de esclarecer tal emaranhado societário das cerca de 70 empresas do grupo.
Lado dos irmãos
Já o pedido de inquérito de um dos irmãos, Ricardo, o escritório Bottini & Tomasauskas Advogados, diz que houve surpresa com os documentos entregues por Adele. Esses papéis seriam relatórios financeiros contendo considerados "sigilosos e protegidos legalmente".
Por isso, decidiu-se fazer uma varredura na empresa para descobrir quem foi o responsável pela entrega dos documentos. Por meio de diligências no sistema da companhia, descobriu-se que um dos funcionários de tecnologia, que estaria há mais de duas décadas na empresa, teria feito o vazamento.
Ainda no requerimento para instauração de inquérito policial, a defesa de Ricardo afirma que o agora ex-funcionário assinou um termo de confidencialidade e que, dessa forma, o repasse dos documentos foi ilegal. Tais documentos não teriam sido enviados diretamente a Adele, mas sim a Gisele.