Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista fechou em leve alta ante o real nesta sexta-feira, revertendo queda de mais cedo, enquanto no mercado futuro a moeda acelerou os ganhos perto das 17h, num pregão de força da moeda norte-americana no mundo depois de o teste positivo do presidente Donald Trump para o coronavírus levantar mais incertezas sobre o rumo da campanha eleitoral na maior economia global.
Ruídos em torno de temas fiscais no Brasil persistiram, o que contaminou também a bolsa e os juros futuros. O mercado futuro de dólar piorou o sinal perto do fechamento das operações no mercado à vista, em torno de 17h, em meio a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o chefe da pasta do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
A jornalistas, Guedes disse não acreditar que Marinho havia falado mal dele, mas que, caso isso tenha acontecido, o ministro do Desenvolvimento Regional "é despreparado, é desleal e é o fura-teto".
A reação de Guedes veio após circularem nas mesas de operação relatos de que Marinho teria criticado Guedes em conversa com profissionais do mercado nesta quinta e dito também que o Renda Cidadã sairia de qualquer jeito --na leitura do mercado, mesmo à custa do descumprimento do teto de gastos.
O mercado reagiu mal porque o conjunto de notícias evidenciava o nível de embate entre a equipe econômica e integrantes do governo sobre como financiar um novo programa de transferência de renda em discussão no governo, o Renda Cidadã.
Na segunda-feira passada, o anúncio de que o programa seria bancado também com recursos de precatórios e do Fundeb causou alvoroço entre investidores, provocando forte alta do dólar, queda da bolsa e acentuado aumento de prêmio no mercado de renda fixa.
Nesta sexta, o dólar à vista subiu 0,24%, a 5,6669 reais na venda, após cair 0,80% na mínima da sessão. É o maior patamar desde 20 de maio.
Na semana, a cotação ganhou 2,04%. Em 2020, dispara 41,22%.
Na B3 (SA:B3SA3), o dólar futuro saltava 0,77%, 5,6920 reais, por volta de 17h45, renovando máximas do dia. O mercado futuro de câmbio encerra às 18h (de Brasília).
O mercado teme que a pressão por mais despesas vinda de dentro do governo leve a um rompimento do teto de gastos em 2021, minando ferramenta que é considerada uma das mais importantes em termos de sinalização de compromisso com as contas públicas.
Nos bastidores, o entendimento é que Marinho tem exercido pressão por mais gastos e que estaria contando com aval do presidente Jair Bolsonaro, cuja relação com Guedes estaria mais estremecida.
O real, mais uma vez, teve um dos piores desempenhos globais nesta sessão. O Morgan Stanley (NYSE:MS) comentou em relatório que a causa dessa "underperformance" é de ordem fiscal.
"Um fechamento acima de 5,68 reais confirmaria o 'momentum' negativo (para o real) e abriria a porta para um empurrão em direção à maçaneta de 6,00 reais", disseram estrategistas do banco, citando que o real quebrou um suporte técnico contra um de seus principais rivais, o peso mexicano, ficando aquém de 3,90 pesos por real.
O real caía 1,6%, a 3,8046 pesos mexicanos no fim da tarde, menor patamar em 16 anos.