SÃO PAULO (Reuters) - O dólar abandonou a relativa calma vista pela manhã e repentinamente passou a subir frente ao real nesta sexta-feira, em alta de mais de 1% e atraindo o Banco Central ao mercado com um leilão de venda de moeda spot.
Analistas dizem que o mercado sofre com saídas de recursos de investidores estrangeiros, em reação ao "sell-off" global no mercado de títulos, que reduz o apelo de ativos de mercados emergentes.
Às 13h02, o dólar à vista subia 1,25%, a 5,5787 reais na venda, bem perto da máxima tocada um pouco antes (5,581 reais, alta de 1,30%).
Na B3, o dólar futuro de segundo vencimento --já o mais líquido-- bateu 5,5855 reais, pico desde o começo de novembro.
A tomada de fôlego da moeda coincidiu com a piora de sinal em ativos de risco no exterior, onde o dólar ganhava de forma generalizada e as bolsas de valores voltavam a cair, enquanto os rendimentos dos Treasuries --cuja escalada foi o pivô da liquidação dos mercados na véspera-- recobravam forças e se mantinham perto de máximas em um ano.
O noticiário político doméstico tampouco ajudava o sentimento dos operadores, que analisavam a ressurgência de notícias na imprensa a respeito de eventual fragilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo.
A formação da Ptax de fim de mês --evento que tradicionalmente adiciona volatilidade aos negócios-- também estava no radar.
O dólar chegou a cair 0,31% às 10h49, para 5,4925 reais, taxa que quase foi tocada novamente por volta de 11h30, a partir de quando uma série de ordens de compras começou a dominar o mercado.
Às 12h12, a moeda bateu uma máxima acima de 5,57 reais. Três minutos depois, o Banco Central veio ao mercado com anúncio de um leilão de venda de dólar à vista, no qual colocou 740 milhões de dólares.
Na véspera, o BC já havia feito duas operações do tipo, nas quais colocou um total de 1,535 bilhão de dólares --maior valor de venda a ser liquidado no mesmo dia desde a liquidação de 2,175 bilhões de dólares em moeda à vista em 28 de abril do ano passado.
O BC não fazia leilão de dólar à vista desde dezembro de 2020. Na segunda-feira, o Bacen já havia vendido 1 bilhão de dólares em dinheiro novo via swaps cambiais tradicionais, numa tentativa de conter a forte reação negativa do câmbio à percepção do mercado de ingerência política na Petrobras (SA:PETR4).
(Por José de Castro)