Por Andrew MacAskill e Michael Holden
NEWCASTLE-UNDER-LYME, Inglaterra (Reuters) - John Jones é o tipo de eleitor que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não poderia perder --mas já perdeu.
Jones, que apoiou os Conservadores de Johnson nas eleições nacionais três anos atrás, quando o partido obteve uma vitória esmagadora, lamenta sua decisão depois que o primeiro-ministro quebrou as próprias regras de lockdown da Covid-19 para participar de reuniões regadas a álcool em seu gabinete em Downing Street.
O gerente de suprimentos hospitalares aposentado de 75 anos disse que não votará nos Conservadores novamente até que Johnson deixe o cargo.
"Estou absolutamente enojado com a maneira como ele se comportou", disse Jones à Reuters na cidade mercantil de Newcastle-under-Lyme, no centro da Inglaterra, um importante reduto nas eleições de autoridades locais que serão realizadas na próxima semana.
"Já cansei de vê-lo agir como um palhaço. Basta olhar para o corte de cabelo e para a maneira como se veste para perceber que não está levando esse trabalho a sério."
Em 2019, Johnson sacudiu a política britânica convencional ao vencer tanto no coração conservador tradicional do sul quanto em áreas mais industriais no centro e no norte da Inglaterra.
Mas seu apoio vem diminuindo à medida que o governo enfrenta uma crise de custo de vida e revelações sobre sua conduta.
Agora, muitos parlamentares conservadores estão se perguntando se ele ainda é um ativo eleitoral, e um fraco desempenho nas eleições locais na próxima quinta-feira pode provocar um desafio de liderança.
Uma das disputas mais observadas será Newcastle-under-Lyme, cerca de 275 Km a noroeste de Londres.
A cidade que apoiou o Brexit, antes conhecida por carvão e aço, era tradicionalmente um reduto do principal partido de oposição, o Partido Trabalhista, mas os Conservadores conquistaram o assento parlamentar em 2019 local pela primeira vez em um século e o controle total do conselho pela primeira vez no ano passado.
O conselheiro trabalhista David Grocott disse ter encontrado uma irritação generalizada com o fato de que autoridades graduadas do governo estavam festejando enquanto a população estava obedecendo a regras rígidas durante a pandemia, o que significava que alguns não podiam nem se despedir de entes queridos mortos em hospitais.
"Todo mundo pode cometer erros, somos todos humanos, mas acho que o difícil é que ele não quebrou as regras uma vez, mas várias vezes", disse Grocott, que não conseguiu ver seu pai no hospital antes de sua morte por Covid em 2020.
Trevor Johnson, um conselheiro conservador local que está concorrendo à reeleição, admitiu que alguns eleitores ficaram bravos, mas disse que a reação não foi tão severa quanto ele temia.
"Eu acho que ele pode se recuperar", afirmou o candidato, cujos panfletos não tinham o nome nem a foto de Johnson.
De acordo com uma pesquisa YouGov depois que Johnson foi multado por violar as regras de contenção da pandemia, quase 80% disseram acreditar que ele mentiu sobre as festas, enquanto outras pesquisas mostram que a população acha que ele deveria renunciar.
Johnson diz que está focado nas principais crises atuais --a inflação mais alta em três décadas e a guerra na Ucrânia.