Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse neste domingo no Twitter que não responde por operações conduzidas por outros Poderes, em meio a críticas recentes à operação Lava Jato feitas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e no momento em que mostra sinais de aproximação com políticos investigados na maior ação de combate à corrupção do país.
"Qualquer operação, de combate à corrupção ou não, deve ser conduzida nos limites da lei, e assim tem sido feito no meu governo", disse Bolsonaro. "Quanto às operações conduzidas por outro Poder, quem responde pelas mesmas não sou eu".
Na semana passada, Augusto Aras --escolhido por Bolsonaro para comandar a PGR em setembro passado-- fez duras críticas à força-tarefa da Lava Jato em Curitiba ao afirmar, por exemplo, que haveria "caixas de segredos" do grupo, em referência a supostos documentos que não seriam rastreáveis pelo sistema do Ministério Público Federal.
A força-tarefa de Curitiba rebateu o que considerou ser uma ilação feita por Aras e defendeu a atuação do grupo. A discussão sobre a operação ocorre a um mês do prazo para o procurador-geral decidir se vai prorrogar por mais um ano a força-tarefa.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro tem se aproximado cada vez mais de políticos investigados na operação, oferecendo cargos no governo a indicados de alguns alvos de investigações -- o que contraria uma promessa de campanha. Na quinta-feira, por exemplo, ele viajou ao Piauí e cumpriu uma agenda pública com o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), que é alvo da Lava Jato.
Até o momento, o presidente --que se elegeu ancorado na promessa de combate à corrupção e na esteira de defesa enfática da Lava Jato-- não se manifestou publicamente sobre as questões referentes à operação.
Na série de postagens no Twitter, intitulada "Combate à corrupção/A Verdade", Bolsonaro disse que "o maior programa de combate à corrupção" foi executado por ele ao não lotear cargos estratégicos, como por exemplo as presidências das estatais, segundo o presidente.
"A Polícia Federal goza de total liberdade em sua missão", afirmou, ao repetir que em breve o efetivo da corporação será aumentado.
Em uma crítica ao ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, seu ex-ministro da Justiça e atual desafeto, o presidente destacou que com a troca do titular da pasta, "como por um passe de mágica, várias e diversificadas operações foram executadas".
"A Polícia Rodoviária Federal, por sua vez, quase triplicou a apreensão de drogas com o novo ministro", disse, referindo-se à gestão do novo ministro da Justiça, André Mendonça.
Embora não se declare candidato, Moro é apontado como um potencial adversário do presidente na sucessão de 2022. Ao deixar o governo em abril, o ex-juiz acusou Bolsonaro de buscar interferir politicamente na PF.
Bolsonaro conclui seus comentários na rede social afirmando que o governo está "há 18 meses sem qualquer denúncia de corrupção" e que isso tem incomodado parte da imprensa e os derrotados nas eleições de 2018.
Entretanto, o presidente ignorou, por exemplo, o fato de seu ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, ter sido indiciado pela PF em um esquema de candidaturas-laranja e ter sido denunciado pelo Ministério Público de Minas sobre esses fatos.
Além disso, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suspeita de prática de "rachadinha" em seu gabinete quando era deputado na Assembleia Legislativa do Estado.