Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse durante visita a São Paulo ao lado do governador do Estado, João Doria (PSDB), que a China é um importante parceiro estratégico do Brasil, lembrando que a bancada parlamentar do agronegócio, setor que é grande exportador para o país asiático, tem boas relações com os chineses.
As declarações de Maia acontecem ao final de uma semana de duro embate público entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro, que desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na quarta-feira, ao revogar decisão dele de incluir a vacina contra Covid-19 da chinesa Sinovac (O:SVA), que está sendo testada e será produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo, no Programa Nacional de Imunização da pasta.
Bolsonaro também disse que o governo federal não irá comprar doses do imunizante pois, segundo o presidente, ele não gera confiança na população "pela sua origem". O presidente disse ainda que o país asiático, que é o maior parceiro comercial do Brasil, tem descrédito junto aos brasileiros.
"A China é um parceiro fundamental do nosso país", disse Maia nesta sexta, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes ao lado de Doria, a quem chamou de "aliado e amigo".
"Eu entendo que nessa questão das relações internacionais, o importante é que a gente aproveite nas relações com os outros países aquilo que melhor interessa ao nosso país", acrescentou.
"Sem dúvida nenhuma, a China, como os Estados Unidos, são parceiros estratégicos. Respeitando a posição de cada um, eu entendo que a relação e a parceria com a China é muito importante para o Brasil em várias áreas, começando pelo agronegócio, que tem uma bancada enorme no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados principalmente, e que certamente tem uma ótima relação com a China", afirmou.
Maia, que se colocou à disposição de Doria para dialogar com o governo federal para ajudar a encontrar uma solução para o que chamou de "entrevero" envolvendo a vacina da Sinovac, se esquivou de comentar diretamente as declarações de Bolsonaro sobre a China.
"Eu ficar aqui criticando ou elogiando o presidente da República não vai resolver o nosso problema", disse o deputado quando indagado sobre as declarações de Bolsonaro a respeito da China.
De acordo com dados do Ministério da Economia, de janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou mais de 53 bilhões de dólares à China, aumento de 14% na comparação com o mesmo período de 2019. O saldo comercial do país com os chineses foi superavitário em 28,8 bilhões de dólares.
Em comparação, os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do Brasil, receberam 15 bilhões de dólares de exportações brasileiras nos primeiros nove meses do ano e, no mesmo período, o Brasil registrou déficit comercial com os norte-americanos de 3,1 bilhões de dólares.
O governo Bolsonaro tem defendido e buscado um alinhamento e uma aproximação cada vez maiores com os EUA e o presidente brasileiro já se declarou por diversas vezes um admirador de seu homólogo norte-americano, Donald Trump.
Ainda na controvérsia envolvendo a China, em um momento em que o governo Bolsonaro ainda não decidiu sobre a participação da chinesa Huawei na futura infraestrutura de telecomunicações 5G no Brasil, em meio a pressões dos Estados Unidos para que a companhia seja barrada, Maia também defendeu na coletiva em São Paulo que o Brasil deve abrir o mercado de 5G para todos.