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Encurralado, Morales concorda com novas eleições na Bolívia conforme pressões aumentam

Publicado 10.11.2019, 14:54
Atualizado 10.11.2019, 14:56
© Reuters.  Encurralado, Morales concorda com novas eleições na Bolívia conforme pressões aumentam

Por Daniel Ramos

LA PAZ (Reuters) - O presidente boliviano, Evo Morales, concordou neste domingo em realizar nova eleição presidencial depois que uma auditoria destacou que o pleito deveria ser anulado, com a pressão de grupos de oposição crescendo para a renúncia do líder esquerdista.

A Organização dos Estados Americanos (OEA), que conduziu uma auditoria acerca das eleições de 20 de outubro, divulgou relatório neste domingo em que apontou sérias irregularidades na votação vencida por Morales, que provocou protestos generalizados em todo o país.

O relatório da OEA informou que a eleição de outubro deveria ser anulada após a entidade ter encontrado "manipulações claras" do sistema de votação, o que significava que não era possível verificar o resultado, de uma vantagem de pouco mais de 10 pontos de Morales sobre seu rival Carlos Mesa.

Morales disse, durante entrevista coletiva em La Paz, que substituirá o órgão eleitoral do país. O departamento tem sido alvo de fortes críticas após uma interrupção inexplicável da contagem de votos que provocou amplas denúncias de fraude.

Quando questionado se seria candidato na nova eleição, Morales afirmou a uma estação de rádio local que "as candidaturas precisam ser secundárias, o que vem primeiro é pacificar a Bolívia", acrescentando que ele tem o dever constitucional de terminar seu mandato.

Por sua vez, Mesa afirmou que Morales e o vice-presidente Álvaro Garcia Linera não deveriam presidir o processo eleitoral ou serem candidatos.

"Se vocês têm um pingo de patriotismo, devem se afastar", disse Mesa em uma entrevista coletiva.

Morales, que chegou ao poder em 2006 como o primeiro líder indígena da Bolívia, defendeu sua vitória nas eleições, mas disse que seguiria as conclusões da auditoria da OEA.

A turbulência da eleição abalou Morales, um sobrevivente da "maré rosa" esquerdista da América Latina de duas décadas atrás, ao mesmo tempo em que jogou incertezas sobre a estabilidade da democracia boliviana. A crise ameaça derrubar o ícone esquerdista num momento em que líderes de esquerda voltaram ao poder no México e na Argentina.

Luis Fernando Camacho, um líder cívico da cidade de Santa Cruz, no leste, que se tornou um símbolo da oposição, disse que o relatório da OEA claramente demonstrou fraude eleitoral. Ele reiterou o pedido de renúncia por Morales.

"Hoje vencemos uma batalha", disse Camacho a uma multidão de apoiadores em La Paz, embora tenha acrescentado ser necessário mais tempo para reparar a ordem constitucional e a democracia.

"Somente quando tivermos certeza de que a democracia é sólida, voltaremos para casa."

O impasse de semanas sobre a disputada eleição aumentou no fim de semana, quando as forças policiais foram vistas participando de protestos contra o governo, e os militares disseram que não "confrontariam o povo" sobre a questão.

À medida que a discussão sobre o relatório de auditoria varria a Bolívia, cresciam também os sinais de que o apoio a Morales estava diminuindo rapidamente.

Juan Carlos Huarachi, líder da Central Operária Boliviana, um poderoso sindicato pró-governo, disse que Morales deveria se afastar se isso ajudasse a acabar com a recente onda de violência.

"Se isso significa renunciar para trazer a paz ao povo da Bolívia, então senhor presidente devemos fazê-lo", afirmou.

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