SÃO PAULO (Reuters) - A seca que causou perdas para a safra de milho e soja do Rio Grande do Sul também deve resultar em problemas para a produção leiteira e de arroz do Estado, de acordo com entidades ligadas a esses setores.
O Rio Grande do Sul é o principal produtor de arroz do país, respondendo por cerca de 70% da produção nacional, e um dos maiores em leite.
O Estado já perdeu cerca de um quarto da safra de soja e 60% da colheita de milho de sequeiro, o que deve resultar em custos maiores para o setor leiteiro, segundo avaliação do setor produtivo.
"Pelo quarto ano consecutivo com chuvas irregulares, que afetam produções como a do milho, alimento base da ração das vacas leiteiras, a produção também é prejudicada devido a este cenário", disse o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
Ele afirmou que em regiões do Estado, como na Serra Gaúcha, a falta de chuvas dizimou diversas plantações de milho, dificultando a estocagem para a alimentação animal.
"Já tivemos secas piores. Mas esta, com dias muito quentes, matou o milho, dizimando lavouras inteiras, tendo que fazer o replantio... mas não tem nem onde comprar, pois os vizinhos estão na mesma situação", disse ele, em referência a Estados do Paraná e Santa Catarina, também afetados pela estiagem.
O Paraná também foi severamente afetado pela seca, impactando a safra de soja brasileira, a qual alguns analistas já consideram que não será recorde.
O Rio Grande do Sul, maior produtor de milho na primeira safra do Brasil, já havia sofrido impactos da estiagem no ano passado.
Como consequência, o preço do cereal na região de Passo Fundo subiu mais de 10% desde o início de dezembro, para 95 reais a saca.
ARROZ
A estiagem que assola produtores no Rio Grande do Sul também está afetando a irrigação nas áreas de arroz.
Em regiões como a Central, rios que abastecem as lavouras já estão com baixo nível ou até secaram, segundo a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
A situação dos arrozais é parecida também em locais na Fronteira Oeste e Campanha.
A safra de arroz do Rio Grande do Sul está estimada em 8 milhões de toneladas em 2021/22, sem grandes mudanças em relação ao ano passado, conforme avaliação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) publicada antes da seca. Segundo a Conab, toda a produção gaúcha é irrigada.
Conforme o presidente da Fecoarroz, Alexandre Velho, em diversas propriedades os produtores estão tendo que optar quais parcelas de lavoura devem irrigar em detrimento de outras.
"Isto preocupa e já sinaliza que possivelmente nós não teremos uma produtividade muito grande e também isto deve influenciar na produção total gaúcha", afirmou.
A federação está recomendando aos produtores rurais que alertem as prefeituras para que encaminhem decretos de emergência com o objetivo de que possam acionar pedidos relacionados a seguros e financiamentos.
(Por Roberto Samora)