Por Marcelo Rochabrun
LA PAZ (Reuters) - O presidente eleito da Bolívia, Luis Arce, disse à Reuters nesta terça-feira que "não há papel" em seu governo a ser desempenhado pelo ex-presidente do país Evo Morales, líder de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), que comandou o país por quase 14 anos antes de renunciar em meio a pressões no ano passado e deixar a Bolívia.
Arce chega ao poder após vencer a eleição de domingo com a apuração oficial --tecnicamente ainda em andamento-- mostrando que a maioria dos votos foi dada a ele, colocando os socialistas de volta no poder no país andino somente um ano após a saída de Morales.
Do exílio, na Argentina, Morales segue com o cargo de presidente do MAS, mas Arce disse que a influência nesta posição será limitada.
"Ele não terá qualquer papel em nosso governo", disse Arce à Reuters na sede do MAS na capital administrativa da Bolívia, La Paz.
"Ele pode retornar ao país quando quiser, porque ele é boliviano... mas no governo sou eu quem tenho que decidir quem forma parte da administração e quem não forma."
Morales vive fora da Bolívia desde que deixou o país no ano passado, após uma eleição marcada por acusações de fraude. Ele nega as acusações e diz que foi derrubado do poder por um golpe de direita. Ele também enfrenta uma série de acusações de corrupção, que também nega.
"O direito ao devido processo legal não foi respeitado em muitos casos contra ele", disse Arce. "Lamento que a política tenha sido judicializada, a direita judicializou a política."
Como ministro das Finanças de Morales, Arce ajudou a comandar uma economia que cresceu mais rapidamente do que qualquer outra na região. Mas quando ele assumir a Presidência no mês que vem, ele enfrentará uma recessão.
"Vamos ter que adotar medidas de austeridade. Não há outra opção se não temos receita suficiente para cobrir nossos gastos atuais", disse.
O presidente eleito, de 57 anos, disse que o modelo econômico que ajudou a implementar no governo Morales funcionou no passado e funcionará novamente.
Educado no Reino Unido, o socialista, que disputou a eleição com uma plataforma de gastos em bem-estar social, disse que os cortes não afetarão os investimentos públicos, que ele disse que será a prioridade para reativar o crescimento.