Por Marc Jones
LONDRES (Reuters) - A Ucrânia pressionará por pacotes sem precedentes e sob medida do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial no valor de dezenas de bilhões de dólares nas próximas semanas para fortalecer suas finanças devastadas pela guerra, disse à Reuters o principal chefe de gestão da dívida do país.
A estimativa deste mês é de que o orçamento ucraniano enfrentará um déficit de 38 bilhões de dólares no próximo ano, dinheiro que precisará vir de apoiadores ocidentais e multilaterais ou então ser impresso. Esses apoiadores ocidentais e multilaterais já devem fornecer cerca de 20 bilhões de dólares este ano.
O FMI parece pronto para dar um impulso ao permitir que os países penalizados pelos aumentos globais dos preços dos alimentos --um grupo que inclui a Ucrânia-- retirem mais dinheiro de sua principal linha de financiamento rápido.
O objetivo de Kiev, porém, é um programa completo do FMI que forneça dinheiro e segurança suficientes para mantê-lo pelos próximos anos.
"Temos um debate muito acalorado com o FMI sobre quais seriam as pré-condições para isso", disse Yuriy Butsa, comissário do governo para gestão da dívida pública. Ele explica que a incerteza sobre a duração e o impacto da guerra na economia do país tornou difícil concordar sobre parâmetros com o Fundo.
"Não tenho certeza se as ferramentas padrão do FMI são realmente projetadas para esse tipo de situação", acrescentou. "Eles provavelmente precisam introduzir um pouco de pensamento criativo". Ele destacou que a última vez que a Europa viu uma guerra dessa magnitude, o FMI não havia sido criado.
FUNDO DE RECUPERAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA
A maior fonte de financiamento da Ucrânia é seu próprio banco central, que já teve de imprimir o equivalente a mais de 10 bilhões de dólares em grívnia.
"Se não estivermos lá em termos de financiamento, teremos que contar com o financiamento monetário como neste ano", afirmou Butsa. "Teremos muitos problemas depois da guerra para resolver, não queremos criar outro como a hiperinflação para combater."
A inflação no país está atualmente em torno de 23%.
Os custos de reconstrução do pós-guerra também se acumulam. Eles já são estimados pelo Banco Mundial em mais de 350 bilhões de dólares, mas o governo quer que 17 bilhões de dólares sejam disponibilizados rapidamente para reparar a infraestrutura-chave para que milhões de pessoas que fugiram da guerra possam retornar.
Butsa disse que está em discussões com o Banco Mundial sobre uma ferramenta especial para esse dinheiro, em que outros, inclusive doadores privados, também possam contribuir. O governo está fotografando os danos para que os doadores possam escolher para quais projetos seu dinheiro irá.
"Nós chamamos isso de (fundo de) recuperação rápida para sobrevivência", afirmou. "É realmente muito crucial para nós sermos rápidos com isso porque há cidades onde não é seguro viver durante o inverno porque não há aquecimento central."