Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, usou seu discurso durante reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, para fazer fortes críticas ao trabalho do Fundo e traçar um panorama focado na retração da economia global, ressaltando que o Brasil estaria “fora de sintonia”, com projeções positivas para a atividade e a inflação.
“Infelizmente, a supervisão bilateral e multilateral do FMI negligenciou a natureza, magnitude e extensão do aumento da inflação que começou em 2021. Como resultado, a orientação política do Fundo foi equivocada em vários casos”, disse, em transcrição da declaração divulgada pelo FMI nesta terça-feira.
O ministro afirmou que em um ambiente global de inflação elevada, altos níveis de endividamento público, desaceleração sincronizada e esgotamento do espaço fiscal, os países precisam contar com o FMI como um farol de análise e aconselhamento de alta qualidade, ressaltando, sem detalhar, que a agenda do Fundo foi ampliada nos últimos anos para incluir questões não essenciais.
“O Fundo deve, portanto, reorientar e fortalecer sua análise macroeconômica e financeira, de supervisão e assessoria de políticas para restaurar totalmente a credibilidade que foi perdida nesse processo”, acrescentou.
Na declaração, Guedes disse que a inflação no Brasil tem sido consistentemente revisada para baixo e o crescimento do PIB revisto para cima, na direção oposta da maioria dos países.
“O Brasil está fora de sintonia com a economia global, surpreendendo positivamente os céticos, incluindo o FMI”, afirmou.
Nos últimos anos, Guedes tem tido relação conflituosa com o FMI, criticando em mais de uma ocasião divergências em projeções feitas pela instituição para o desempenho da economia brasileira.
Em 2020, o FMI chegou a projetar que o PIB brasileiro cairia 9,1% naquele ano, com a pandemia de Covid-19, mas depois revisou as estimativas para números menos negativos. A retração da atividade em 2020 acabou ficando em 4,1%.
No fim do ano passado, Guedes anunciou o fechamento da missão do FMI no Brasil, também criticando o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, que havia sido nomeado diretor do órgão internacional.
"Ficaram porque gostam, feijoada, jogo de futebol, conversa boa... E de vez em quando criticar um pouco e fazer previsão errada", disse na ocasião.
CENÁRIO GLOBAL
Na declaração desta terça-feira, o ministro disse haver expectativa de que o Brasil cresça 2,5% este ano. A previsão apresentada por ele é menor do que a atual projeção do governo e a mais recente estimativa do mercado no boletim Focus, de 2,7% nos dois casos. Também é inferior à nova projeção do FMI, de crescimento de 2,8%.
Em relação ao cenário global, Guedes disse que o Brasil lamenta profundamente a continuação da invasão da Ucrânia, "que está causando sofrimento humanitário inaceitável e está atrapalhando a economia global de maneiras que afetam particularmente as populações pobres e vulneráveis".
O ministro ressaltou que economias avançadas estão promovendo apertos monetários "após atrasos consideráveis", com a atividade global começando a sentir o impacto da alta nos juros.
"Com a desaceleração econômica, taxas de juros mais altas, valorização do dólar e fluxos de capitais mais voláteis, os riscos de dificuldades financeiras nos mercados de crédito doméstico e internacional aumentaram significativamente", disse.
Depois de afirmar que desequilíbrios fiscais persistentes podem alimentar as pressões inflacionárias no mundo e dificultar ainda mais o trabalho dos bancos centrais, Guedes destacou que o Brasil vem apresentando resultados positivos nas contas públicas.