BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central defendeu nesta quinta-feira que a adoção da chamada orientação futura (forward guidance), pela qual se comprometeu desde agosto a não subir os juros básicos desde que algumas condições fossem satisfeitas, teve eficácia equivalente a um corte maior na Selic do que o efetivamente feito.
Naquele mês, o BC reduziu os juros básicos a 2% --taxa que se mantém até hoje--, ante patamar de 2,25%, e adotou o forward guidance para prover estímulo monetário adicional à economia.
Em seu Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira, o BC calculou que o efeito do forward guidance foi equivalente a uma surpresa na Selic de 11 pontos-base, ou o correspondente a uma redução de 25 pontos-base na taxa, quando o mercado precificava uma redução de 14 pontos.
"De acordo com as estimativas realizadas, o efeito do forward guidance foi de 0,12 p.b. (taxa nominal) ou 0,11 p.b. (taxa real), sendo similar a uma surpresa negativa de 25 p.b. na taxa Selic. Essa estimativa deve ser vista com cuidado, em função da pequena quantidade de observações, mas serve como uma primeira aproximação para o efeito do forward guidance sobre a curva de juros", disse.
Em sua mensagem sobre política monetária, o BC reafirmou no relatório considerar adequado o atual nível "extraordinariamente elevado" de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa básica de juros em 2,00% e pelo forward guidance.
Também voltou a dizer que, em função do ajuste mais recente nas expectativas de inflação e perda de relevância nos próximos meses de 2021 para o horizonte da política monetária, as condições para a manutenção do forward guidance podem "em breve" não mais ser satisfeitas.
As expectativas de inflação para 2022 já estão em torno da meta, que é de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
De qualquer forma, o BC também repetiu que a eventual queda do forward guidance não implica elevação mecânica da Selic. Nesse caso, "a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos", disse.
(Por Marcela Ayres)