Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Nos últimos oito anos, as atividades ilegais na região Amazônica --não apenas no Brasil, mas também nos países vizinhos-- cresceram e aumentaram a pressão sobre a floresta, mostra o Atlas Amazônia Sob Pressão, feito pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), consórcio de entidades ambientais dos países amazônicos.
Extração de madeira, mineração e plantios ilegais compõe uma rede de atividades que devastam a floresta ao mesmo tempo que movimentam milhões de dólares por ano.
De acordo com dados levantados pelo Atlas, 27% da floresta sul-americana --além do Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana, e o território da Guiana Francesa, compõem o território amazônico-- estão sob alta pressão de atividades que levam ao desmatamento. Em outros 7%, a pressão é muito alta.
No Brasil, 29% da Amazônia estaria sob alta pressão.
"São três das atividades econômicas que, recrutando milhares de pessoas, proliferam na floresta tropical sustentadas pela demanda de seus produtos finais em mercados internacionais", diz o estudo. Entre eles a madeira, a cocaína, o ouro e outros metais preciosos.
Apenas este ano, a rede levantou 4.472 pontos de mineração ilegal na Amazônia, a maioria no Brasil e na Venezuela, onde a extração irregular de pedras e preciosos vem numa curva ascendente. O Brasil concentra 53,8% desses pontos de mineração ilegal detectados pelo Atlas --2.576-- e 95% deles estão em atividade no momento.
"Brasil tem visto uma expansão do setor ilegal. Entre as regiões mais afetadas pelo avanço da mineração ilegal estão a bacia do rio Tapajós, terra dos indígenas mundukuru, e a terra indígena Ianomâmi, onde se estima que estejam 20 mil garimpeiros. E também, ao norte, a terra indígena Raposa Serra do Sol, que sofreu em 2020 a primeira invasão de garimpeiros ilegais em larga escala desde sua demarcação, há 11 anos", diz o Atlas.
Apesar de identificar que as áreas de proteção e as terras indígenas ainda são fatores que conseguem conter o aumento da exploração ilegal e do desmatamento, o estudo mostra que o garimpo ilegal avança também nessas áreas, em toda a região Amazônica. Foi identificado que 17,3% das áreas de proteção e 10% das áreas indígenas hoje sofrem com invasão e garimpo ilegal.
Em junho, um análise de imagens de satélite feito pela Reuters já mostrava um aumento de 20 vezes da mineração ilegal nos últimos cinco anos na terra Ianomâmi, principalmente ao longo de dois rios, o Uraricoera e o Mucajaí. Somadas, as áreas de mineração cobriam oito quilômetros quadrados --o equivalente a 1.000 campos de futebol.
Em meio à pandemia de Covid-19, os garimpeiros levam a doença para dentro das aldeias --relatório recente produzido pela Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana apontou um aumento de 259% nos casos entre agosto e outubro-- e tiram o ouro que, se sempre foi valioso, neste 2020 bateu recordes históricos no preço internacional.
ECONOMIA LEGAL
Apesar do avanço das atividades ilegais, a perda de cobertura florestal ao longo das últimas décadas se deve, também, a atividades legais, especialmente a pecuária. Desde 2000, em toda a região, a área usada para pecuária aumentou 81,5% --ou seja, mais 647.411 km² dedicados a pastagens. Mais de 70% dessas novas áreas surgidas entre 2001 e 2020 eram, ainda em 2000, cobertas por florestas.
"A atividade agropecuária é responsável por 84% do desmatamento da Amazônia, segundo análise da Raisg e do MapBiomas", aponta o Atlas.
Com crescimento até 2003, o desmatamento e a abertura de pastagens passou a cair em toda a região até chegar ao ponto mais baixo em 2012. Desde então, voltou a subir.
O desmatamento para produção agrícola aconteceu com força em áreas de proteção ambiental, com crescimento de 220% de pastagens em reservas florestais e 160% em terras indígenas, especialmente em países como Bolívia e Equador.
"Políticas nacionais impulsionaram a atividade agropecuária na região sem considerar o impacto negativo para o ecossistema", aponta o Atlas.
No Brasil, o mapa mostra o avanço das áreas de agropecuária nos últimos 20 anos concentrados principalmente no Pará, norte do Tocantins e Mato Grosso.
Procurado pela Reuters para comentar as informações do Atlas, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu.