Por Luana Maria Benedito e Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira que entende a ansiedade do mercado financeiro, que classifica como "ruído", e que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará no mês que vem a proposta de um novo marco fiscal para o país, que será debatida com a sociedade.
"Nós vamos em março provavelmente anunciar o que nós entendemos que seja a regra fiscal adequada para o país", disse o ministro no evento BTG Pactual (BVMF:BPAC11) CEO Conference 2023, antecipando em um mês o prazo anteriormente previsto, em um movimento sugerido pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.
"O Congresso estabeleceu para agosto e nós já tínhamos puxado para abril por causa da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Mas daí a Simone ponderou, com razão, e o próprio Geraldo Alckmin também, que para mandar para o Congresso em abril junto com a LDO era bom ter um período de discussão."
Haddad afirmou ainda ser a favor de metas exigentes, tanto para a política fiscal quanto para a monetária, mas ressaltou que elas precisam ser exequíveis.
"Um ser humano tem que conseguir fazer aquilo", afirmou. "Quando você projeta cenários irrealistas, perde a credibilidade", acrescentou.
As falas de Haddad acontecem em um momento de agitação no mercado diante das pressões do governo Lula por alterações na meta de inflação do país e redução no nível dos juros, além de críticas de aliados do presidente ao comandante do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Diante do tom elevado das críticas de membros e aliados do governo ao Banco Central, Haddad disse manter diálogo permanente com a autoridade monetária, mas alertou que o BC não pode se deixar levar por que chamou de "ruídos".
"Acho que a situação hoje é melhor do que há um mês, embora as expectativas estejam muito contaminadas por esse ruído todo. Eu sei que está, e lamento que esteja. Mais do que lamentar que esteja, eu lamento ainda se a autoridade monetária se deixar levar por isso. Não é esse o papel, de se deixar levar por ruído", disse o ministro.
"Você não pode tomar uma decisão com base numa fantasia momentânea de um estresse que pode acontecer", acrescentou.
O ministro disse, ainda, que avisou Lula que será necessário ter sangue frio, "porque vamos ter que passar pela corda bamba".
"FRAUDE" NAS AMERICANAS E JUROS
O titular da Fazenda fez coro ás críticas ao atual patamar da taxa básica de juros, de 13,75% ao ano, e afirmou que o rombo contábil nas Americanas, que levou a varejista á recuperação judicial, só veio à tona por causa dos juros altos. Ele também disse que o episódio envolvendo a empresa foi uma "fraude".
"Aquilo veio à tona por causa da taxa de juros. Você podia rolar por mais três, quatro anos aquela bagunça lá, em algum momento ia se perceber, mas podia rolar. De repente a taxa vai de 2% para quase 14%, o corpo bóia, o cadáver que estava lá no fundo do mar sobe e aí fica tudo exposto", disse.
"Mas eu me pergunto, agora foi um problema de fraude, mas e daqui um mês, daqui dois meses, daqui seis meses? Será que aquele que se comportou bonitinho, pagou seus fornecedores, registrou suas dívidas, será que ele vai suportar isso?"
Em meio às constantes críticas do governo ao BC, as atenções agora se voltam para a reunião na quinta-feira do Conselho Monetário Nacional (CMN), formado por Haddad, Tebet e Campos Neto.
Será a primeira reunião do conselho, a quem cabe fixar as metas de inflação a serem perseguidas pelo BC, no novo governo. Haddad afirmou na terça-feira que a meta de inflação não está na pauta do encontro, depois de rumores de que Lula teria pedido que a meta de inflação, hoje em 3,25% para este ano, fosse aumentada em 1 ponto percentual.
Uma fonte próxima ao presidente ouvida pela Reuters, no entanto, negou que Lula tenha feito esse pedido ao ministro da Fazenda.
Na terça, Campos Neto havia dito que o sistema de metas para a inflação funciona bem e não é hora de fazer experimentos, mas de melhorar a credibilidade.