BRASÍLIA (Reuters) -O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira que mantém um diálogo em curso com o Banco Central em meio ao "cenário desafiador" vivido mediante a autonomia da autarquia.
"É a primeira vez que o ministro da Fazenda se depara com uma situação nova, em que ele tem que construir uma relação de confiança e de parceria para concorrer para os mesmos objetivos", disse Haddad em participação online em evento realizado pelo Bradesco BBI.
De acordo com o ministro, estão sendo criadas as "condições para que essa harmonia se estabeleça, de uma vez por todas", entre a Fazenda e o Banco Central, e que o mercado de capitais "volte às boas".
Desde que tomou posse, em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e membros do governo têm criticado o presidente do BC, Roberto Campos Neto, pelo atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, e pela atuação do Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia.
Haddad também afirmou que o governo não está discutindo no momento mudanças na meta de inflação e ressaltou que há, entre especialistas, um debate sobre se essa alteração contribuiria para ancorar ou desancorar as expectativas de inflação, o qual ele disse acompanhar "com muita humildade".
"Não estamos discutindo isso neste momento, não discutimos esse assunto ao longo deste ano", afirmou Haddad ao ser questionado sobre o debate em torno de eventuais mudanças na meta de inflação.
"O momento que você vai fixar a meta para frente é o momento de você verificar se as metas foram bem calibradas, se é o caso de manter, se é o caso de não adotar o ano gregoriano, se é o caso de fazer aquela meta contínua, como a maioria dos países adota."
COMBUSTÍVEIS
O ministro também reiterou em sua fala que a medida de taxação das exportações de petróleo foi adotada de forma emergencial no final de fevereiro para reforçar a arrecadação, e deixará de valer ao fim do prazo de 120 dias, quando a gasolina e o álcool serão reonerados.
Haddad disse, ainda, ter expectativa positiva com a legislação para determinação do chamado preço de transferência, aprovada na semana passada pela Câmara dos Deputados. A medida provisória, editada no fim do governo de Jair Bolsonaro, mudou regras para a fixação de preços usados entre empresas relacionadas, afetando principalmente aspectos relacionados aos preços de commodities e royalties.
"Eu penso que o preço de transferência pode resolver uma boa parte das distorções do nosso sistema tributário no que diz respeito à exportação, coibindo práticas que não deveriam estar no horizonte das empresas sérias do país", disse Haddad, lembrando que a MP ainda precisa passar pela aprovação do Senado.
(Reportagem de Victor Borges e Isabel VersianiEdição de Pedro Fonseca)