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Haddad diz que Lula não sabota o país, mas não responde se meta zero será mantida

Publicado 30.10.2023, 12:35
© Reuters. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista à Reuters, em Brasília
18/10/2023
REUTERS/Adriano Machado

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar que será difícil atingir a meta de déficit fiscal zero no próximo ano, não mostra descompromisso e não está "sabotando o país", mas constatando problemas que precisam ser saneados, e defendeu que novas medidas sejam enviadas ao Congresso, ponderando ser necessário "validar na política as decisões".

Durante entrevista coletiva em Brasília, Haddad afirmou que a arrecadação federal não está acompanhando o crescimento acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB), mas, apesar de insistir que a Fazenda segue buscando equilíbrio fiscal, não quis responder se o governo está comprometido com a meta de déficit primário zero em 2024.

"Quando falam 'o presidente está sabotando o país', não (é isso). O que está acontecendo é que o presidente está constatando os problemas advindos de decisões que precisam ser reformadas ou saneadas", disse Haddad.

"Querida, é a quarta vez que respondo, para o Ministério da Fazenda, nós vamos levar medidas para que os objetivos do governo sejam alcançados independentemente desses contratempos que foram apurados ao longo do exercício e que têm trazido a erosão da base de cálculo dos recursos federais, mas precisa validar na política as decisões que vão ser tomadas", afirmou, após ser reiteradamente questionado sobre o compromisso do governo em manter a meta zero em 2024.

No final do dia, o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), divulgou nota à imprensa afirmando que o Legislativo está disposto a ajudar o governo a alcançar a meta prevista.

"Devemos seguir a orientação e as diretrizes do ministro da Fazenda, a quem está confiada a importante missão de estabelecer a política econômica do Brasil. Ir na contramão disso colocaria o país em rota perigosa", disse o senador, na nota.

"O Parlamento tem essa compreensão e buscará contribuir com as aprovações necessárias, com as boas iniciativas e perseguindo o cumprimento da meta estabelecida", acrescentou.

Na sexta-feira, Lula disse a jornalistas que a meta fiscal de 2024 não precisa ser zero e que o objetivo dificilmente será alcançado, já que não pretende cortar investimentos para atingi-lo, ressaltando que o mercado muitas vezes cobra o cumprimento de algo que sabe que não será cumprido.

De acordo com Haddad, um projeto de lei e uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2017 erodiram fortemente a base arrecadatória do governo ao ampliarem as possibilidades de dedução da base de cálculo de impostos federais por empresas. Esses fatores, segundo ele, estão comprometendo as contas do governo atualmente.

A meta fiscal zero segue as premissas do novo arcabouço para as contas públicas e foi proposta pelo governo no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, que ainda tramita no Congresso. Uma eventual mudança nesse objetivo poderia ser feita a partir de um pedido do governo para que o Congresso altere o texto.

Medida que soluciona parte da questão ao regular benefícios tributários federais baseados em subvenções está no Congresso, mas ainda não avançou. Segundo Haddad, apenas a redução da base de cálculo do Imposto de Renda das empresas e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) a partir de subvenções estaduais somará 200 bilhões de reais neste ano.

Após se reunir com Lula nesta segunda, o ministro afirmou que o presidente quer organizar reuniões com líderes partidários para que os números sejam apresentados, juntamente com alternativas para resolver os problemas, incluindo a antecipação de medidas fiscais que seriam apresentadas apenas em 2024. Segundo ele, "ninguém aqui está afrouxando nada, ninguém está querendo contornar nada".

© Reuters. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista à Reuters, em Brasília
18/10/2023
REUTERS/Adriano Machado

"O que levei ao presidente foram os cenários possíveis, se eu tiver que antecipar medidas que tomaria em 2024 e o governo concordar, eu encaminho", disse. "A minha meta está estabelecida. Vou buscar o equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias para que nós tenhamos um país melhor."

O ministro também apontou que o patamar alto dos juros no país está entre as causas da erosão da base fiscal e que a questão das finanças do país não é discutida há dez anos.

(Por Bernardo Caram, reportagem adicional de Fernando Cardoso e Maria Carolina Marcello)

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