Por James Pomfret e Scott Murdoch
HONG KONG/PEQUIM (Reuters) - Os moradores de Hong Kong acenderam velas em toda a cidade, nesta quinta-feira, para lembrar a repressão sangrenta dos soldados chineses dentro e nos arredores da Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989, driblando a proibição a reuniões públicas adotada por causa da pandemia de coronavírus.
O aniversário de 4 de junho toca um nervo especialmente sensível da cidade semiautônoma neste ano por causa da decisão tomada pela China no mês passado de impor uma legislação de segurança nacional sobre Hong Kong, que críticos temem acabar com as liberdades do polo financeiro.
A data também chega no momento em que a mídia chinesa e algumas autoridades de Pequim expressaram apoio aos protestos contra a brutalidade policial nos Estados Unidos. O evento da Praça da Paz Celestial não é oficialmente marcado na China continental, onde o assunto é tabu e qualquer debate é censurado duramente.
Em Pequim, a segurança ao redor da Praça da Paz Celestial, uma atração turística popular do centro da cidade, pareceu reforçada, com mais policiais visíveis do que em dias normais.
Em Hong Kong, uma vigília anual com velas acontece no Victoria Park há três décadas para lembrar o massacre e costuma atrair dezenas de milhares de pessoas. Mas nesta semana a polícia disse que uma aglomeração representaria uma ameaça à saúde pública, depois que a cidade relatou seus primeiros casos de coronavírus transmitido localmente em semanas.
Isto levou os organizadores da vigília a pedirem que as pessoas, ao invés disso, "acendam velas em todo lugar" da cidade e observem um minuto de silêncio. Todos que temerem acusações de reunião ilegal foram incentivados a assinalar o dia nas redes sociais usando a hashtag #6431truth, uma referência ao 31º aniversário e à data.
"Quando autoridades querem nos suprimir, há mais razões para se manifestar", disse Malissa Chan, de 26 anos.
Na quarta-feira, a União Europeia exortou a China a permitir que os moradores de Hong Kong e Macau, sua outra cidade semiautônoma, lembrem a ocasião, dizendo que isto seria "um sinal de que liberdades fundamentais continuam a ser protegidas".
No mesmo dia, Taiwan, que tem um governo democrático, mas é reivindicada por Pequim, e onde eventos de lembrança foram programados para todo o dia, pediu à China que se desculpe, o que esta refutou dizendo "não fazer sentido".
A China nunca prestou contas do massacre de 1989. O número de mortos apresentado pelas autoridades dias depois foi de cerca de 300, a maioria soldados, mas grupos de direitos humanos e testemunham dizem que milhares de pessoas podem ter morrido.
(Reportagem adicional de Ben Blanchard em Taipé)