(Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu nesta quarta-feira que o país avance em algum tipo de reforma administrativa, alertando que retroceder em outras reformas estruturais já realizadas seria um "retrocesso institucional".
Em café da manhã organizado pela Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, em Brasília, Campos Neto apontou que uma reforma administrativa ajudaria a abordar um dos três grandes componentes da dinâmica de gastos do Estado brasileiro, que também inclui previdência e juros da dívida.
"Na parte administrativa, eu entendo que seria importante fazer alguma coisa, ainda que não tenha uma economia imediata", disse Campos Neto. "Eu acho que as reformas têm poder cumulativo no crescimento estrutural do Brasil. Andar para trás nas reformas que foram feitas significa, no final das contas, um retrocesso institucional."
Reformas estruturais que gerem expectativa de redução dos gastos no futuro acabam dando credibilidade ao país no presente, disse Campos Neto. Ele disser ser normal haver questionamentos quando mudanças aprovadas trazem efeitos indesejados, mas apontou que o Brasil tem justamente se destacado por avanços em reformas, mesmo durante a pandemia.
CRÉDITO PARCELADO
Campos Neto disse que o BC está estudando a questão do crédito parcelado sem juros no cartão e citou a possibilidade de que os juros do crédito direto ao consumidor (CDC) estejam aumentando como resultado do crescimento do parcelado sem juros.
Ele explicou que esse processo estaria acontecendo para compensar a inadimplência no crédito parcelado sem juros, acrescentando ter um "grande temor" de que o produto esteja inibindo um CDC mais barato.
"O banco transfere custo entre produtos. Se ele tem um produto que tem uma inadimplência alta e que não tem remuneração de juros, pode ser que ele esteja aumentando os juros em outro produto", disse.
ARGENTINA
Campos Neto também comentou a proposta do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, de extinguir o banco central de seu país, afirmando que as autoridades monetárias têm funções importantes, como a estabilização da moeda e a regulação do sistema financeiro, e que é difícil imaginar sua eliminação.
Ele disse reconhecer a percepção no país vizinho de que o banco central foi o responsável por degradar a moeda ao ter sido usado como instrumento para financiar o governo e destacou que no Brasil isso não seria possível por causa da autonomia da autoridade monetária.
"Acho que o mais importante não é acabar com o banco central e sim ter um banco central que funcione."
(Por Fernando Cardoso)