Por Geoffrey Smith
Investing.com – As taxas dos títulos do governo da Itália disparavam na quinta-feira, após o primeiro-ministro do país, Mario Draghi, ameaçar renunciar ao cargo se o Movimento 5 Estrelas deixar de apoiar seu governo.
O rendimento da nota referencial de 10 anos da Itália subia 6% às 8h50 (horário de Brasília), para 3,442%, seu nível mais alto em duas semanas. O movimento ampliou o diferencial das taxas com o título comparável da Alemanha, que serve de referência para a zona do euro, para 218 pontos-base.
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As taxas pagas pela Alemanha também subiam, enquanto os mercados de títulos de todo o mundo sentiam a pressão do último choque negativo de inflação nos EUA, na quarta-feira. A inflação ao consumidor americano atingiu a máxima de 41 anos, de 9,1%, gerando especulações de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) possa elevar a taxa básica de juros em um ponto percentual em sua reunião de 27 de julho. Tais temores se intensificaram pela ação do Banco do Canadá, que deu exatamente esse passo duas horas após a divulgação do dado de inflação nos EUA, elevando sua taxa básica de 1,5% para 2,5%.
O Movimento 5 Estrelas, liderado pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, ameaçou deixar a ampla coalizão de Draghi em protesto pela falta de apoio às famílias de baixa renda, que enfrentam uma disparada dos preços de energia e, sobretudo, de alimentos.
"Tenho muito medo de que, em setembro, as famílias precisem escolher entre pagar a conta de luz ou comprar comida", afirmou Conte a repórteres na quarta-feira, ao declarar que não apoiaria um voto de confiança do Senado ao governo na quinta-feira. A votação deve ter início às 9h (horário de Brasília).
Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu extremamente influente, tornou-se primeiro-ministro em 2020, com o objetivo de garantir o apoio de parceiros e instituições da UE, no momento em que as finanças públicas da Itália estavam sofrendo extraordinária pressão devido à pandemia. Elas enfrentam pressões similares atualmente, à medida que o BCE começa a elevar a taxa de juros para conter a disparada da inflação. Isso ameaça aumentar o custo de serviço da enorme dívida soberana do país, reduzindo a quantidade de recursos disponíveis para pensões e salários do setor público.
Draghi, que pressionou discreta mas firmemente por uma reforma completa das políticas econômicas de forte viés estatal da Itália na presidência do BCE, fez alguns avanços na implementação de reformas estruturais, a fim de melhorar o perfil de dívida do país desde 2020, mas o progresso se viu prejudicado primeiro pela pandemia e agora pela invasão da Rússia na Ucrânia.
A invasão e a dor econômica provocada pela redução de 60% do fornecimento de gás da Rússia para punir a Itália por seu apoio a Kiev agravaram ainda mais as profundas divisões existentes no espectro político italiano, que possui grandes blocos que abertamente buscaram o apoio da Rússia no passado. O legado da influência comunista na Itália do pós-guerra e a longeva tradição do nacionalismo de direita do passado fascista fazem com que grande parte da população tenha simpatia pela causa russa.
Essa combinação de legado político e vulnerabilidade econômica transformou a Itália num importante campo de batalha, enquanto o Ocidente luta para manter uma frente unida contra a agressão russa à Ucrânia.