SÃO PAULO (Reuters) - O JP Morgan revisou seu cenário para o afrouxamento monetário do Banco Central do Brasil e passou a ver um corte de juros menos intenso em junho, uma vez que as incertezas globais se acentuaram recentemente.
Agora, a instituição financeira prevê redução de 0,25 ponto percentual em junho, que seguiria um ajuste de 0,50 ponto no encontro de maio do Comitê de Política Monetária (Copom).
Anteriormente, o JP Morgan esperava que um processo de desinflação doméstico, juntamente com o que se pensava ser um provável início de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve em junho, permitiriam outro corte de 0,50 ponto no encontro do Copom de junho.
"Contudo, acreditamos que os recentes desdobramentos globais exigem mais cautela, especialmente porque o Banco Central estava preocupado com as incertezas econômicas globais e locais, mesmo antes do recente aumento das taxas mundiais", disse o JP Morgan em relatório assinado por Cassiana Fernandez, chefe de pesquisa econômica para a América Latina, e outros dois economistas.
"O crescimento econômico globalmente resiliente e as persistentes pressões inflacionárias estão levando a uma reavaliação do comportamento dos principais bancos centrais e, consequentemente, à desvalorização cambial no Brasil."
Nesta segunda-feira, o dólar chegou a superar os 5,19 reais em meio aos novos temores sobre a política monetária do Federal Reserve, com operadores passando a precificar menos de dois cortes de juros de 0,25 ponto percentual pelo Federal Reserve até ao final do ano, conforme dados de inflação e atividade têm surpreendido para cima.
No final do ano passado, os mercados chegaram a precificar cerca de 1,50 ponto em reduções de juros pelo Fed ao longo deste ano, num momento em que a perspectiva de inflação era bem mais otimista.
Embora tenha revisado sua expectativa para o ritmo de queda de juros no Brasil, o JP Morgan manteve o prognóstico para o patamar da Selic ao final do ciclo de afrouxamento em 9,50%. Atualmente, a taxa básica de juros está em 10,75%, após seis cortes consecutivos de 0,50 ponto desde agosto do ano passado.
"Já reforçamos que a projeção de taxa acima da neutralidade era resultado das nossas expectativas de um crescimento sólido do PIB, de condições financeiras globais restritivas e de incertezas fiscais e políticas internas. Este continua a ser o nosso cenário central", disse o JP Morgan no relatório.
"Mas, à medida que a significativa desinflação do núcleo que começou em março continua no segundo trimestre, acreditamos que o Banco Central será capaz de entregar a mesma taxa terminal de 9,5%."
Sobre a cena fiscal doméstica, o JP Morgan disse que monitorará eventuais mudanças nas metas de resultado primário do governo.
"Caso o governo altere a meta para um processo de consolidação fiscal mais gradual, acreditamos que seria importante sinalizar um esforço contínuo", avaliou a instituição financeira.
O governo encaminhará ao Congresso nesta segunda-feira o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, com projeções para o resultado primário das contas do governo central em 2025 e à frente.