BERLIM (Reuters) - O crítico do Kremlin Alexei Navalny disse a uma revista alemã que acredita que o presidente russo, Vladimir Putin, está por trás de sua suspeita de envenenamento, mas afirmou que não tem medo e que retornará à Rússia para retomar sua campanha de oposição.
Navalny voou da Rússia para Berlim em agosto, depois de adoecer em um voo doméstico. Ele recebeu tratamento no hospital Charite para o que a Alemanha alegou ser envenenamento por Novichok, uma substância neurotóxica potencialmente mortal, antes de receber alta em setembro.
"Acredito que Putin está por trás do crime e não tenho nenhuma outra versão do que aconteceu", disse Navalny à Der Spiegel, de acordo com um trecho de uma entrevista que será publicada nesta quinta-feira.
O Ocidente exigiu uma explicação do Kremlin, que negou qualquer envolvimento no incidente e disse que ainda não viu evidências de um crime.
"Você não sente nenhuma dor, mas sabe que está morrendo", disse Navalny sobre o momento em que a substância começou a fazer efeito sobre ele. O líder de oposição acrescentou que estava tendo uma recuperação estável e, agora, estava reaprendendo a como se equilibrar em uma perna.
Navalny foi acompanhado em sua visita ao escritório da revista por seguranças, que insistiram que deveriam escolher qual garrafa de água da geladeira ele deveria beber. Seus aliados disseram que vestígios de Novichok foram encontrados em uma garrafa de água que ele bebeu em seu quarto de hotel antes de embarcar.
Navalny afirmou à Der Spiegel que voltaria à Rússia, acrescentando: "Minha tarefa agora é permanecer sem medo. E não tenho medo! Se minhas mãos estão tremendo, é por causa do veneno, não por medo. Não vou dar a Putin o presente de não voltar".
Ele e sua esposa estão morando em um apartamento alugado em Berlim, mas ele afirmou que só voltaria a publicar em seu popular canal de vídeos online quando estivesse de volta à Rússia. "Não quero ser o líder da oposição no exílio."
O político, que foi visitado ao lado de sua cama no hospital pela chanceler Angela Merkel, disse que sentia uma ligação pessoal com a Alemanha e ficou impressionado com o profundo conhecimento de Merkel sobre a Rússia.
"Minha impressão é que Merkel não precisa de nenhum conselho meu", afirmou ele. "Mas qualquer estratégia sobre a Rússia deve levar em conta a profundidade da loucura que Putin atingiu agora", disse, acrescentando que já eram passados os tempos em que "Putin não arriscaria um conflito com Berlim".
(Por Michelle Adair e Maria Tsvetkova)