Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se colocou nesta sexta-feira à disposição do governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem se referiu como "amigo e aliado", para ajudar a resolver o que chamou de "entrevero" envolvendo a potencial vacina da chinesa Sinovac, que está sendo testada e deverá ser produzida pelo Instituto Butantan, do governo paulista.
O potencial imunizante contra a Covid-19, que está em fase avançada de testes no Brasil, foi rejeitado pelo presidente Jair Bolsonaro, adversário político de Doria. Bolsonaro disse que o governo federal não adquirirá a vacina mesmo que ela tenha segurança e eficácia comprovada e obtenha o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alegando que ela não transmite segurança "pela sua origem".
"Eu espero que o entrevero desta semana possa construir uma solução para as próximas semanas", disse Maia, que veio a São Paulo participar ao lado de Doria da entrevista coletiva que o governo paulista faz para dar informações sobre o combate à pandemia.
"O senhor (Doria) pode contar com a Câmara para que a gente possa com diálogo com o governo --temos duas medidas provisórias que precisam ser votadas-- a gente restabelecer o bom diálogo. O presidente (Bolsonaro) nos últimos meses tem tido um ótimo diálogo comigo, tenho que falar a verdade, e eu espero que a gente consiga construir através do diálogo a solução."
Maia disse que fez questão de vir ao Estado para desfazer boatos de que teria deixado de receber Doria em Brasília na quarta por outro motivo que não fosse a indisposição que sentiu. O presidente da Câmara, que já teve a Covid-19 e sofreu com sintomas da doença, disse ter contraído uma virose que o impediu de se reunir com Doria.
"Fiz questão de estar aqui hoje, governador, porque na quarta, quando era para estarmos juntos, tivemos algumas notícias que eu deixei de recebê-lo por algum motivo, para atender a alguma sinalização para alguém e, de fato, eu fiquei indisposto", disse Maia.
"Peguei uma virose dos meus filhos. Eu estou pegando uma virose a cada duas semanas, estou emagrecendo bem, já foram 11 quilos com as viroses. Se for uma a cada 15 dias, eu chego nos meus 86 quilos rapidamente", brincou.
ANVISA
Um dia depois de o Butantan reclamar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária estava atrasando a autorização para importação de insumos para a produção da vacina chinesa, Doria disse ter ouvido do presidente da agência que ela não se submeteria a pressões do Palácio do Planalto e espera que ela siga nesta linha.
Posteriormente, ainda na quinta-feira, a Anvisa divulgou nota em que afirma que uma decisão sobre o pedido excepcional de importação, feito pelo Butantan à agência há um mês, será decidido em cinco dias úteis.
Indagado, o governador não quis dizer se o governo de São Paulo pretende adotar medidas judiciais caso a Anvisa atrase a importação de insumos para a produção da vacina pelo Butantan ou se a agência retardar o processo de registro do imunizante. Tampouco quis afirmar se recorrerá ao Judiciário para garantir a inclusão da vacina da Sinovac no Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde.
Doria se disse aberto ao entendimento, disse que aceitaria de imediato um convite de Bolsonaro para ir a Brasília dialogar, mas sem entrar em detalhes disse também que adotará todas as medidas necessárias caso entenda que o governo federal esteja discriminando São Paulo.
Ele também reiterou que, uma vez tendo registro da Anvisa, a vacina da Sinovac será aplicada à população de São Paulo mesmo que não seja incluída no PNI.
"Nós vamos até o limite do possível, esgotando pelo entendimento e pelo diálogo. Mas se pelo diálogo nós não tivermos o alcance daquilo que é necessário para salvar a vida de brasileiros --sejam os brasileiros de São Paulo, sejam os brasileiros de outros Estados--, você não tenha a menor dúvida, adotaremos todas as medidas que forem necessárias", disse.