BRASÍLIA (Reuters) - O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, renovou nesta terça-feira sua previsão para o déficit primário neste ano, que se aproxima de 600 bilhões de reais em meio à pandemia do coronavírus, perto de 8% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em conversa virtual promovida pelo veículo Jota, Mansueto frisou que "toda essa conta está sendo paga com aumento de dívida".
Sobre a transferência de recursos a Estados e municípios, ele disse que há necessidade de bom debate neste momento para estabelecimento do tamanho do auxílio.
Ele disse que sua preferência pessoal era por um valor fixo e que fosse também menor do que o proposto no projeto aprovado na véspera pela Câmara dos Deputados. A equipe econômica calculou que o texto da Câmara tem impacto de 85,5 bilhões de reais para a União caso haja queda de 30% na arrecadação de ICMS e ISS por seis meses.
Questionado sobre a estimativa para o déficit fiscal em 2021, Mansueto afirmou que, no momento, qualquer projeção para o rombo nas contas públicas será "frágil". De acordo com ele, o número a ser informado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a ser enviada ao Congresso até quarta-feira, projetando o rombo das contas públicas, constituirá "uma primeira tentativa", podendo piorar ou melhorar.
"A gente teria que ter um número melhor de qual será o crescimento ou queda do PIB neste ano e como isso vai afetar a base de arrecadação neste ano", argumentou o secretário.
Mansueto também voltou a reforçar a importância da manutenção da regra do teto de gastos no país, salientando que atualmente a "única âncora fiscal que o Brasil tem para consolidar o cenário de inflação baixa e juros baixos é o teto de gastos".
PRIVATIZAÇÕES E CONCESSÕES
Abordado sobre a agenda de privatizações defendida pela equipe econômica, Mansueto reconheceu que no curto prazo, em decorrência dos impactos econômicos causados pelo coronavírus nas cadeias produtivas, as condições de mercado não contribuem para o programa, podendo haver atraso em sua execução.
Ele, no entanto, ressaltou que assim que haja a recuperação dos mercados, a continuidade da agenda "é essencial".
"Acho que o governo, inclusive, tem que correr com as modelagens, todo esse processo de privatização e concessão, para quando passar a crise, ele estar pronto para, em algum momento ainda neste ano ou no próximo, correr com essa agenda. Então a importância dessa agenda continua", analisou.
Mais cedo, em teleconferência com investidores, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, indicou que o cronograma do governo para concessões continua normal, mesmo com os efeitos negativos advindos do coronavírus.
(Por Marcela Ayres e Gabriel Ponte; Edição de Isabel Versiani)