Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - É inequívoco que nas últimas duas a três semanas os mercados melhoraram muito, mas a política monetária do Banco Central não se guia por movimentos de curto prazo dos preços de mercado, afirmou o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk.
"Por onde quer que se olhe, se olhar câmbio, curva (de juros), commodities, aqui dentro, lá fora, os mercados (estão) precificando muito, muito mais calma", afirmou ele, em live promovida pelo Credit Suisse nesta terça-feira.
Kanczuk, contudo, frisou que ainda é cedo para dizer que há dados sólidos sustentando esse otimismo, embora tenha admitido que os números do mercado de trabalho dos Estados Unidos surpreenderam positivamente e passaram a apontar indicações melhores sobre a retomada da economia.
"Política monetária não vai ser influenciada por movimentos de curto prazo em preços de mercado. Vai ser influenciada, mas você não vai mexer seu transatlântico porque vê pedra na frente, você vai meio devagar", afirmou ele.
Kanczuk avaliou que o mercado financeiro tende a ser muito volátil tanto para um lado quanto para outro e que, por isso, o ponto central para a política monetária é "não dar tanta bola" para os preços de antes e tampouco para os preços de agora.
"É suavizar essas coisas e tentar misturar esses dados de mercado com dados sólidos econômicos, de crescimento, de dívida", afirmou.
Kanczuk também avaliou que o câmbio irá oscilar e destacou que a preocupação da autoridade monetária é com eventual disfuncionalidade, e não com os preços.
"Eu não tenho uma opinião sincera sobre nível, a gente não vai fazer política, não vai se preocupar com nível de câmbio, a gente só vai atuar na disfuncionalidade. Então o câmbio vai oscilar mesmo, e a gente tem que tomar isso aí como um dado e pensar os efeitos práticos disso daí para a inflação", afirmou.
Kanczuk ponderou que ao mesmo tempo que o dólar caiu frente ao real houve movimento "importante" de commodities. Nesse sentido, ele reforçou que o BC olha para o balanço entre câmbio e preços de commodities e como isso afeta as suas projeções de inflação.
Nos últimos 14 pregões, o dólar caiu em 11. A moeda recua 9,09% em junho até a segunda-feira e 17,73% desde que bateu a máxima recorde para um fechamento (de 5,9012 reais em 13 de maio).
O otimismo global dos últimos dias pegou um mercado de câmbio no Brasil com posição técnica amplamente comprada em dólar. A virada na moeda forçou desmonte de posições, o que retroalimentou a correção.
Em 2020, porém, o dólar ainda sobe 20,98%, o que faz do real a divisa de pior desempenho entre as principais. Nesta terça-feira, a moeda subia perto de 1%, a 4,89 reais.
SELIC
Para sua decisão sobre os juros, a ser tomada no próximo dia 17, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, voltou a indicar que, qualitativamente, a autoridade monetária continua pensando nos mesmos choques relacionados à crise do coronavírus.
Ele reforçou que, por conta da pandemia, tanto o impacto no fiscal quanto o impacto na economia serão grandes.
"Para o futuro temos grau de incerteza brutal, mas um pouco de questionamento agora de quanto vai durar a pandemia e em que sentido é só um problema de liquidez ou pode ser mais grave que isso", afirmou ele.
(Com reportagem adicional de José de Castro)