Por Rodrigo Campos e Belen Liotti
NOVA YORK/BUENOS AIRES (Reuters) - Gregorina Victorica, de 86 anos, moradora de Buenos Aires aposentada, está celebrando a conquista da Argentina na Copa do Mundo que elevou o ânimo do país e trouxe alegria às pessoas duramente atingidas pelo aumento de preços e a crise econômica.
Mas, apesar do brilho da vitória de uma final dramática contra a França, a realidade está batendo à porta com a inflação chegando a 100%, controles rígidos de capital, quase 40% de pobreza e temores de mais inadimplência no horizonte.
"A Copa do Mundo é uma alegria imensa que nos reanima depois de tanto tempo sofrendo com a crise econômica", disse Victorica. "Mas logo teremos que cair na realidade e enfrentar as situações que nos pressionam todos os dias."
A conquista emocionante da Argentina, a primeira desde que Diego Maradona ergueu o troféu em 1986, levou milhões às ruas na terça-feira para comemorar com o time comandado pelo astro Lionel Messi, uma válvula de escape para as frustrações com os líderes que têm fracassado em consertar a economia durante anos.
A multidão era tão grande e delirante --com algumas estimativas de 4 milhões a 5 milhões de pessoas nas ruas-- que o desfile com ônibus aberto teve que ser interrompido e os jogadores transferidos para helicópteros para sobrevoar a cidade.
Mas na ressaca da festa da vitória, os argentinos estão voltando à terra. O importante país produtor de grãos registrou inflação anual de 92,4% em novembro. A taxa básica de juros é de 75%.
Questões como impressão de dinheiro, um peso artificialmente supervalorizado e baixas reservas estrangeiras estão se agravando. Os investidores temem que o ministro da Economia, Sergio Massa, não esteja fazendo reformas políticas suficientes de olho nas eleições gerais no final do próximo ano, que o governo teme perder.
"Massa está apenas empurrando o problema, ele busca não fazer nenhum ajuste significativo antes das eleições de 2023", disse Ted Mann, analista sênior de ações de mercados emergentes da AllianceBernstein.
Mudanças econômicas, no entanto, não vão acontecer da noite para o dia e precisam que todos contribuam, não apenas o time de futebol, disse María Belén Pereyra, professora de 32 anos.
"Celebramos porque nos representa como país, mas este foi o sacrifício de cerca de 30 pessoas", disse ela. "Para que a economia mude, todos nós precisamos fazer um esforço."