GENEBRA (Reuters) - As tensões globais começaram a fragmentar o comércio à medida que se formam relações comerciais rivais, afirmou a Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta terça-feira, mas argumentou que é prematuro declarar que a globalização retrocedeu.
O órgão sediado em Genebra disse que observou um aumento acentuado nas restrições comerciais unilaterais e uma visão crescente de que o caminho certo é uma cooperação com um grupo mais limitado de países amigos e a "eliminação de riscos".
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, o comércio entre dois blocos de países com diferentes padrões de votação na Organização das Nações Unidas cresceu entre 4% e 6% mais lentamente do que o comércio dentro desses blocos.
Na última votação da ONU relacionada à Ucrânia, pedindo à Rússia que retire suas tropas, 141 membros votaram a favor. Sete votaram contra e 32 se abstiveram, incluindo China, Índia e África do Sul.
O relatório da OMC disse que a divergência, que exclui os números da Rússia e da Ucrânia, foi semelhante para o investimento estrangeiro direto.
Os fluxos comerciais entre a China e os Estados Unidos se realinharam, com aumentos para produtos não sujeitos a tarifas e reduções acentuadas para algumas categorias, como produtos farmacêuticos e semicondutores.
"A história China-EUA é muito importante nos dados, mas não se limita a isso", disse o economista-chefe da OMC, Ralph Ossa, em uma entrevista à Reuters.
As preocupações comerciais levantadas nos comitês da OMC, vistas como indicadores de alerta, aumentaram com o crescimento das restrições comerciais unilaterais.
No entanto, o comércio em geral continuou a crescer, mesmo entre os Estados Unidos e a China, onde o comércio atingiu um recorde em 2022. A OMC disse que as piores previsões de escassez de suprimentos e aumento acentuado dos preços dos alimentos não se concretizaram.
O relatório aponta para a rápida expansão do comércio de serviços digitais e bens ambientais, mas afirma que um novo aumento nas medidas unilaterais poderia ainda fragmentar a economia mundial.
Ele argumenta que um impulso renovado em direção à integração - "reglobalização" - é o caminho para enfrentar os problemas atuais de segurança, pobreza e mudança climática.
(Reportagem de Philip Blenkinsop)