Nascido em São Paulo, em 19 de junho de 1939, Affonso Celso Pastore teve carreira em boa medida estruturada na academia, como gostava de afirmar, com passagens pela administração pública, sem ter experiência em instituições financeiras privadas. O berço de sua formação foi a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), onde cursou graduação, pós-graduação e realizou também sua Livre Docência, tornando-se posteriormente professor titular e diretor. Nos anos 90, lecionou na pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e também no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
A vida na administração pública começou ainda nos anos 60, integrando a equipe de assessores do então Ministério da Fazenda. Nos anos 70, assumiu a Secretaria da Fazenda de São Paulo.
Assumiu a presidência do Banco Central no começo de setembro de 1983, em pleno processo de renegociação de dívida externa e com o País quebrado, e ficou até março de 1985. Sucedeu o economista Carlos Langoni, após este entrar em rota de colisão com o então ministro do Planejamento Delfim Netto.
A saída de Langoni, que dispunha de alta credibilidade no mercado financeiro, foi lamentada, mas ao mesmo tempo a indicação de Pastore foi vista com alívio. Assim como o antecessor, o acadêmico da FEA também tinha trânsito junto à comunidade internacional, sendo considerado um nome forte para dar sequência às negociações da dívida com bancos e organismos como Fundo Monetário Internacional (FMI), Clube de Paris e Banco Mundial, num momento em que o Brasil vivia crise no balanço de pagamentos. "Entrei em meio a uma crise e fui o administrador dessa crise, não fui propriamente um presidente de banco central", relatou. À época, o BC não tinha o status de hoje, sendo uma mera divisão do Ministério da Fazenda.
Poucos meses após assumir o desafio de comandar o BC, Pastore e a área econômica conseguiram um acordo para empréstimo em janeiro de 1984. As reservas cambiais eram negativas em US$ 2 bilhões (conceito caixa, não de liquidez internacional) em setembro de 1983, mas no começo do ano seguinte o saldo era positivo em US$ 6 bilhões.
Foi imperioso ainda um processo de indexação e desvalorização cambial que estimulasse as exportações e ajudasse a equilibrar o balanço de pagamentos, mas que teve como trade off a explosão da inflação, que chegou a rodar em 100% ao ano. "A forma de resolver a crise externa nos empurrou para o câmbio real fixo na paridade de poder de compra, tendo como consequência a total impossibilidade de controlar a quantidade de moeda", disse, em entrevista dada para a coleção História Contada do Banco Central do Brasil, no volume a ele dedicado, lançada em 2019.
Conhecido por seu perfil ortodoxo e rigor na defesa do controle da inflação, Pastore afirmava que sua grande frustração na passagem pelo BC foi não poder fazer política monetária, que à época era de responsabilidade do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para entender e explicar os fenômenos por trás dos processos de descontrole de preços no Brasil nas últimas décadas, se aprofundou em pesquisas que resultaram no livro Inflação e Crises - O papel da Moeda, lançado em 2014, considerado fundamental pela classe para os que querem estudar macroeconomia.
Suas posições firmes lhe renderam polêmicas, como o famoso atrito com o ex-presidente do Banco Central na gestão Dilma Rousseff Alexandre Tombini, em março de 2015. Incomodado com a crítica de Pastore de que desde que havia chegado ao BC nunca entregou a inflação na meta de 4,5%, Tombini acionou a assessoria de imprensa da autoridade monetária para responder que, quando Pastore era o titular da instituição, a inflação acumulada em 12 meses passou de 134,69% para 224,60%.
Pastore disse ter se sentido ofendido e treplicou: "nunca me escondi atrás de nota à imprensa para desrespeitar quem está ou esteve no Banco Central" e disse que nunca ter escondido ou mentido sobre seus feitos no BC.
Nos anos 90, fundou a AC Pastore & Associados, consultoria com foco em macroeconomia aplicada, junto com a esposa, também economista, Maria Cristina Pinotti.