Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, deixará o cargo nesta quarta-feira em meio a relatos de que é investigado por assédio sexual supostamente praticado contra funcionárias da instituição, disseram duas fontes com conhecimento do assunto à Reuters.
O caso está sendo investigado sob sigilo pelo Ministério Público Federal, conforme uma terceira fonte, e foi revelado na terça-feira em reportagem do portal Metrópoles.
Conforme a reportagem, que ouviu funcionárias que teriam sido vítimas dos abusos sob anonimato, Guimarães --um dos integrantes do governo mais próximos do presidente Jair Bolsonaro-- teve condutas inapropriadas. Elas citaram toques íntimos não autorizados, convites para jantares e outros encontros incompatíveis.
Procurada, a Caixa e a Secretaria de Comunicação da Presidência não responderam de imediato a pedido de comentário da Reuters.
Na noite de terça, segundo uma das fontes, Pedro Guimarães chegou a se reunir com o presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos coordenadores da pré-campanha à reeleição de Bolsonaro, e outros aliados. Ele deu sua versão sobre o caso e negou os relatos.
Ainda assim, segundo uma das fontes, a decisão foi de Guimarães deixar o cargo, mas a forma que isso será feito ainda não foi decidida.
Uma das preocupações de aliados de Bolsonaro é que o caso venha a ser explorado na campanha com o eleitorado feminino, segundo a fonte, parcela em que o presidente já tem tido dificuldades de conquistar votos, segundo as pesquisas de intenção de voto.
Outra fonte disse que a decisão de tirar Guimarães do cargo em meio às denúncias e antes da conclusão das investigações pelo MPF é a mais pragmática.
VIDA PAUTADA PELA ÉTICA
Em evento sobre programa de crédito rural do Plano Safra na manhã desta quarta, o presidente da Caixa agradeceu a presença da sua esposa, Manuella Pinheiro Guimarães, e destacou que tem "uma vida inteira pautada pela ética". O evento realizado no edifício-sede da Caixa foi fechado para a imprensa, mas a Reuters obteve gravação em vídeo da fala de Guimarães.
"Eu quero agradecer a presença de todos vocês, a da minha esposa. Acho que, de uma maneira muito clara, são quase 20 anos juntos, dois filhos e uma vida inteira pautada pela ética. Tanto é verdade que quando eu assumi o banco, o banco tinha os piores ratings das estatais, 10 anos com balanço com ressalva, uma série de questões que todos vocês sabem, e hoje a gente é um exemplo", afirmou.
"Tenho muito orgulho do trabalho de todos vocês e da maneira como eu sempre me pautei em toda a minha vida", emendou ele, antes de iniciar uma apresentação e sem mencionar diretamente as acusações de assédio.