Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O Senado iniciou nesta quarta-feira a discussão da reforma tributária, etapa regimental em plenário anterior à votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera o sistema tributário nacional com a unificação de impostos e uma "trava" ao crescimento da carga tributária.
Assim como integrantes do governo, o relator da proposta, senador Eduardo Braga (MDB-AM), manifestou otimismo pela aprovação da reforma, tema debatido há décadas pelo Congresso, mas nunca concluído.
Fontes da área política do governo calculam, por exemplo, que a proposta tenha por volta de 50 votos favoráveis, conta apertada levando-se em consideração que, por se tratar de uma PEC, precisa de ao menos 49 votos a favor em dois turnos de votação.
Soma-se ao cenário resistência manifesta por governadores do Consórcio de Integração dos Estados do Sul e Sudeste, sob a avaliação de que o texto a ser votado desfaz avanços aprovados pela Câmara dos Deputados, retira a autonomia dos Estados e cria desequilíbrio entre os entes da Federação. Eles defendem o adiamento da votação para que sejam discutidos contrapontos ao relatório. Caso contrário, pretendem orientar as bancadas de seus Estados a votarem contra o parecer de Braga nesta tarde.
Na tentativa de obter apoio dos pares, Braga incorporou em seu parecer -- já aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa na véspera -- uma série de exceções e tratamentos especiais, mas ponderou que "para cada concessão que foi feita no relatório do dia 25 (quando apresentou o parecer), houve uma redução de concessão concedida pela Câmara dos Deputados".
A Fazenda já vinha afirmando que uma grande quantidade de exceções exerceria uma pressão sobre a alíquota unificada a ser adotada. O secretário extraordinário da reforma tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, sustenta que o ideal seria a aprovação de uma reforma sem nenhuma exceção para o novo modelo tributário. Reconheceu, no entanto, a necessidade do debate político e de abertura para concessões.
Ele também afirmou, em diversas ocasiões, que a alíquota a ser adotada será aquela que mantém a carga tributária atual.
Ainda assim, o relator acatou sugestão de diversos senadores e introduziu, no texto da PEC, uma "trava", um limite para o crescimento da carga tributária no país. A tributação ficará atrelada à variação do Produto Interno Bruto (PIB) e não poderá haver aumento de carga se não houver crescimento do indicador.
Na última segunda-feira, Appy estimou uma alta de 0,5 ponto percentual na alíquota padrão do Imposto sobre Valor Agregado (IVA)que está sendo proposto na reforma a partir das mudanças ao texto em discussão no Senado, com a avaliação de que o valor final, a partir da regulamentação, fique entre 25,9% a 27,5%.
A matéria foi aprovada em julho na Câmara, mas terá de voltar à Casa para uma nova análise depois de aprovada pelo senadores devido às mudanças promovidas pelos senadores.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aventou a possibilidade de a proposta ter apenas alguns de seus trechos promulgados -- justamente aqueles que foram aprovados tanto por deputados quanto para senadores.
Braga, no entanto, alertou que eventual fatiamento deverá levar em conta o tamanho do consenso entre as duas Casas do Congressos sob o risco de prejudicar a efetividade do texto.
Encerrada a votação da PEC, o Congresso terá a tarefa de analisar projetos de lei complementar que regulamentem as alterações constitucionais.
O governo tem planos, ainda, de enviar, no início de 2024, uma reforma do Imposto de Renda.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)