Por Luana Maria Benedito
(Reuters) - A diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, disse nesta terça-feira que seriam necessárias mudanças muito relevantes nos fundamentos da dinâmica inflacionária para haver uma intensificação do ritmo de corte de juros previsto pela autarquia.
Falando em live da Bradesco (BVMF:BBDC4) Asset, Guardado afirmou que, como ressaltada na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária, o BC leva em consideração para sua tomada de decisão fatores como o hiato do produto, a inflação de serviços e a desancoragem das expectativas de altas de preços.
"Se as coisas mudarem, nós vamos reavaliar, mas essa reavaliação precisa ser muito substancial para mudar esse plano de voo que nós traçamos e que sinalizamos, dado que nós já temos uma projeção de desinflação, temos uma trajetória, que é mais otimista até que o mercado, o Focus, têm embutidos", disse a diretora, que reforçou a necessidade de paciência e cautela.
Sobre o hiato do produto, que indica a ociosidade da economia, Guardado disse que o resultado do Produto Interno Bruto do segundo trimestre, que surpreendeu para cima, vai ter um impacto sobre a estimativa do indicador, adiantando que uma revisão virá no Relatório Trimestral de Inflação de setembro.
No início de agosto, o Banco Central cortou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e indicou reduções da mesma magnitude em suas próximas reuniões.
Guardado, que na ocasião do último Copom --atipicamente sem consenso-- ficou entre os diretores que votaram por um corte de juros mais parcimonioso, de 0,25 ponto percentual, disse nesta terça-feira que a política monetária está funcionando, mas que é preciso ter "paciência" e "cautela" diante dos riscos à frente.
Entre esses riscos, ela destacou que a inflação de serviços deve levar mais tempo para cair em meio a um mercado de trabalho muito saudável, e disse que isso já está incorporado às estimativas do BC.
Nesse contexto, "é trabalho da política monetária aumentar a confiança dos agentes de que nós vamos agir de forma a trazer essa inflação em direção à meta nesse horizonte mais longo", disse Guardado, alertando que as expectativas de altas de preços mostradas no relatório Focus tiveram uma ancoragem apenas "parcial".
Ela fez ainda um aceno ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao reconhecer seu "comprometimento" em atingir as metas fiscais estabelecidas pelo governo.
"O Ministério da Fazenda tendo sucesso em atingir as metas que propõe, colocar as medidas de tributação que se propõe... pode até ser um cenário positivo para ajudar as expectativas (de inflação) a caírem um pouco mais", disse Guardado.
A diretora afirmou, ainda, que a previsão do BC é que, ao longo de 2024, haverá um recuo "bem consistente" da inflação no Brasil.
MUNDO
Sobre o cenário internacional, Guardado disse nesta terça-feira que os apertos monetários "excessivos" dos bancos centrais globais são um risco baixista para a inflação, mas que podem ter impacto negativo no comportamento da economia global, alertando para períodos de crescimento mais baixo nos próximos anos.
Ela argumentou que a política monetária e a inflação globais seguem cheias de riscos de ambos os lados, sendo os riscos altistas os de uma persistência dos avanços de preços e a possibilidade de taxas de juros neutras mais altas.
A diretora disse ainda que, para a maioria dos países, a convergência da inflação à meta ficará para 2024 ou até 2025.