Por Marco Aquino
LIMA (Reuters) - O presidente interino do Peru, Manuel Merino, se viu sob crescente pressão para renunciar ao cargo neste domingo depois que mais da metade do seu novo gabinete renunciou após a morte de duas pessoas em protestos pela destituição repentina do antecessor na Presidência.
Milhares de peruanos realizaram alguns dos maiores protestos do país em décadas --em sua maioria pacíficos, mas cada vez mais marcados por confrontos-- depois que o Congresso votou, na última segunda-feira, pela destituição de Martín Vizcarra como presidente por acusações de suborno, o que ele nega.
A turbulência política acontece no momento em que o Peru, segundo maior produtor mundial de cobre, luta contra a pandemia do coronavírus e o que deve ser sua pior recessão econômica em um século.
Os manifestantes lotaram as praças no centro de Lima na noite de sábado, com os protestos começando de forma pacífica mas ficando mais intensos ao anoitecer. Dois jovens manifestantes foram mortos nos confrontos, disse um porta-voz do governo. O programa estatal de saúde do Peru, EsSalud, confirmou em um comunicado que os dois jovens morreram em decorrência de ferimentos a bala.
O coordenador nacional de direitos humanos do Peru disse que 102 pessoas ficaram feridas e pelo menos 41 estão desaparecidas. O Ministério da Saúde informou paralelamente que 63 pessoas foram hospitalizadas após sofrerem ferimentos ou inalarem gás lacrimogêneo. Pelo menos nove tiveram ferimentos a bala, disseram as autoridades.
Após o episódio de violência, 11 dos 18 ministros que haviam prestado juramento na quinta-feira anunciaram suas renúncias. Cresceram os pedidos para a saída de Merino, ex-presidente do Congresso que liderou o processo de impeachment de Vizcarra e que assumiu na terça-feira passada.
"O presidente Merino deve apresentar sua renúncia neste momento", disse o novo presidente do Congresso, o deputado de centro-direita Luis Valdéz, à estação local América Televisión na manhã deste domingo, acrescentando que uma reunião urgente de parlamentares foi convocada para esta manhã.
A assembleia nacional dos governos regionais do Peru também divulgou um comunicado exigindo a renúncia de Merino, dizendo que ele era "politicamente responsável pelos atos de violência".
O primeiro-ministro Ántero Flores-Aráoz disse em uma entrevista à rádio RPP que, se Merino renunciasse, ele também deixaria o cargo. "Devo a ele respeito, consideração e lealdade. Não posso deixá-lo sozinho", disse ele.
Vizcarra culpou a repressão do "governo ilegal e ilegítimo" de Merino pela morte de dois manifestantes durante a noite.
“O país não permitirá que as mortes desses bravos jovens fiquem impunes”, escreveu Vizcarra no Twitter.