Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após o forte avanço nas duas sessões anteriores, as taxas dos contratos de DI tiveram um dia de maior acomodação, mas ainda assim encerraram a terça-feira em leve alta, em meio a tentativas do governo Lula de reduzir o mal-estar em torno da questão fiscal e à virada para o positivo dos rendimentos dos Treasuries durante a tarde.
Desde sexta-feira, o mercado brasileiro vem sendo pressionado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a meta fiscal de 2024 não precisa ser zero e que o objetivo dificilmente será alcançado, já que ele não pretende cortar investimentos.
Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar as declarações de Lula, mas acabou por reforçar a pressão de alta para as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
O resultado foi um avanço de mais de 40 pontos-base nas taxas de alguns contratos futuros, em dois dias úteis. Nesta terça-feira, a curva a termo demonstrou maior acomodação, com as taxas registrando leves perdas durante boa parte do dia.
“Tivemos o vetor fiscal que tensionou o mercado na sexta-feira, com o Lula, e na segunda-feira, com a tentativa frustrada de Haddad de apaziguar a questão. Isso pressionou a curva de juros e o câmbio nestes dois dias”, pontuou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Hoje (terça-feira) vemos uma tímida recuperação. A curva de juros vem caindo um pouco e o dólar futuro também”, comentou ele, durante a tarde.
O movimento ocorria na esteira da reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e líderes de partidos da base aliada do governo. Na saída do encontro, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a meta de zerar o déficit primário no próximo ano depende da aprovação de medidas em tramitação no Congresso, que ampliam a arrecadação federal.
"O debate com todos os líderes foi de, neste momento, estarmos concentrados na aprovação das medidas que ampliam a arrecadação do governo e fazem justiça tributária", disse Padilha. “Não faz nem sentido a gente fazer qualquer discussão sobre meta fiscal antes de concentrarmos o nosso trabalho nas medidas que garantem a ampliação da arrecadação.”
Por sua vez, Haddad mais cedo mais uma vez não respondeu aos jornalistas em Brasília se a meta fiscal de 2024 será alterada.
Neste cenário, a queda dos rendimentos dos Treasuries até o meio da tarde favorecia o viés de baixa para as taxas futuras no Brasil. No entanto, conforme o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado, o fechamento da curva a termo brasileira era contido, porque a percepção de risco fiscal maior seguia permeando os negócios.
Com a virada dos yields para o positivo durante a tarde, as taxas futuras de alguns dos vencimentos mais líquidos também passaram a subir no Brasil.
“Vejo o mercado reagindo ao evento de sexta-feira, ainda que Padilha tenha tentado acalmar”, disse Machado.
Além do foco na área fiscal, os investidores aguardam pela decisão de política monetária do Fed e do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, ambas na quarta-feira.
Perto do fechamento a curva a termo precificava em 97% as chances de o corte da taxa básica Selic na quarta ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 3%. Estes percentuais vêm se repetindo há duas semanas. Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano.
No fim da tarde, com os yields de 10 anos em alta nos EUA, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,085% no Brasil, ante 11,131% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,065%, ante 11,035% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,255%, ante 11,206%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,47%, ante 11,434%.
Às 16:44 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 0,50 ponto-base, a 4,8817%.